Por Marcello Sigwalt
Sem declaração final sobre a pretendida reforma das Nações Unidas. Este foi o saldo da reunião de dois dias dos chanceleres do Brics (grupo formado por 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã no Rio de Janeiro), encerrada nessa terça-feira (29). A falta de consenso se deve à uma disputa regional entre países africanos, em que pese o 'esforço' do mandatário brasileiro em favor de um acordo, a exemplo de idêntica tentativa promovida por ocasião do G20, em fevereiro do ano passado.
Para explicitar o contexto indefinido, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira explicou que "a União Africana tem uma posição muito conhecida, muito declarada, conhecida como Consenso de Ezulwini, que foi a cidade em que se realizou a reunião em que estabeleceram os princípios, para eles, um grupo de 54 países, que em bloco reagem às propostas de reforma do Conselho de Segurança e de todo os métodos de trabalho de todas as estruturas das Nações Unidas", acrescentando que, "então, eles têm uma posição muito específica, que o Brasil reconhece, adota e aprova e vários outros países também".
Recorrendo ao contumaz trato 'diplomático' da situação e aproveitando a presidência rotativa tupiniquim do Brics, Vieira, em coletiva, enfatizou a importância de "uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente".
Por sua vez, Egito e Etiópia exigem, além da expansão, mudanças no órgão, como o fim dos mecanismos de veto dos membros permanentes do Conselho da ONU, em especial, Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, China e França.
Em outro trecho de sua mensagem, o chanceler brasileiro acentuou: "Decidimos fazer uma declaração da Presidência, justamente para deixar um caminho aberto para negociarmos com muito cuidado e com muita precisão uma declaração que acontecerá no mês de julho, na ocasião da reunião dos chefes de Estado", para quem o governo brasileiro está "preparando o caminho e aplainando qualquer eventual divergência que haja em alguma das áreas".
No campo geopolítico, a declaração do Itamaraty, sem citar diretamente os EUA, criticou o "protecionismo comercial" e o "unilateralismo", materializados pelo anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, no início deste mês.