Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Rodrigo Santoro, vilão na Netflix em 'Bom Dia, Verônica', ator interpreta uma tartaruguinha com transtorno mental em animação de Marão

Rodrigo Santoro vive uma tartaruga marinha com mania de organização na animação 'Bizarros Peixes das Fossas Abissais', de Marão | Foto: Divulgação

Prestes a assombrar a Netflix na nova temporada de "Bom dia, Verônica", agendada para o dia 14 de fevereiro, Rodrigo Santoro vai animar o cinema brasileiro a partir deste fim de semana sob o casco de um quelônio ranzinza, obcecado por organização, no desenho "Bizarros Peixes das Fossas Abissais".

É o primeiro longa-metragem de um dos mais respeitados (e premiados) diretores do país, Marcelo Marão, chamado de "o Walt Disney de Nilópolis". Seu currículo soma 127 prêmios e passagens por 667 festivais pelo mundo, com curtas como "Até a China" (2015). A saga de uma super-heroína (interpretada vocalmente pela atriz Natália Lage), cujo bumbum se transforma num símio gigante, vai ser exibida neste domingo, numa sessão às 11h, no Estação NET Rio. Na mesa data, à tarde, tem projeção (na praça) na Mostra de Tiradentes (MG). No dia 25, acontece a estreia oficial da produção, num circuito de 20 cidades brasileiras coberto por sua distribuidora, a Vitrine Filmes. Ao lado da vigilante de região glútea mutante há uma nuvem com incontinência pluviométrica (encarnada pelo gogó de Guilherme Briggs, dublador do Rei Julien de "Madagascar") e o personagem de Santoro, que anda feliz da vida por dar o ar de sua graça - e de seu talento - à animação nacional. Há 13 anos, ele brilhou nessa seara, depois de ter atuado em "Rio" (2011), de Carlos Saldanha, vivendo um ornitólogo animado. Dublou a si mesmo em português.

"Tive a oportunidade de trabalhar com dois grandes animadores, que são Saldanha e o Marão. Eu sempre adorei desenhos animados e, até hoje, assisto animação, pois, agora, com uma filha de seis anos, ainda estou descobrindo muita coisa", diz Santoro, por e-mail, ao Correio da Manhã. "Quando fui menino, vivíamos a época dos Smurfs, do Pica-pau, do Pernalonga, do Papa-léguas... e tinha o grande 'Caverna do Dragão. Desse, só depois de muito tempo, fui descobrir a moral da história!", diz o astro de "7 Prisioneiros" (2021), referindo-se à mítica em torno do Mestre dos Magos e do Vingador.


 

Um pé no Brasil e outro em Hollywood

Santoro com o cineasta Marão e o dublador Guilherme Briggs durante as gravações das vozes para o longa do diretor | Foto: Divulgação

Há 24 anos, quando era visto como um galã nas novelas da Globo, Santoro estrelou "Bicho de Sete Cabeças", de Laís Bodanzky, um dos maiores cults da Retomada - hoje na Netlix. O filme deu a ele o troféu Candango no Festival de Brasília (onde ele ganharia mais um prêmio desses em 2011, por "Meu País"). Ali, redefiniu sua carreira, que ganhou uma natureza anfíbia - metade hollywoodiana, metade brasileira - a partir de sua aparição em "As Panteras: Detonando", "Em Roma na Primavera" e "Simplesmente Amor".

Em 2007, o fenômeno de bilheteria de "300", de Zack Snyder, no qual ele vive o imperador persa Xerxes, transformou seu nome numa grife de boa acolhida no exterior. Passou pelo seriado "Lost" e filmou com Roland Joffé, Philip Kaufman, Steven Soderbergh, David Mamet, Pablo Trapero e mais uma leva de autores. Fez animação também com Luiz Bolognesi, cedendo seu vozeirão (ao lado de Camila Pitanga e Selton Mello) ao aclamado "Uma História de Amor e Fúria", ganhador do troféu Cristal de Melhor Filme no Festival de Annecy, em 2013 - que está na Netflix.

Agora, é a vez de Marão, que recebeu uma menção honrosa no Festival do Rio por "Bizarros Peixes das Fossas Abissais", além de láureas na Suécia, na Argentina e em Portugal. "O Marão é uma das maiores referências da animação brasileira no mundo, além de ser uma pessoa maravilhosa, absolutamente apaixonado pela arte de animar quadro a quadro na caneta e papel. Minha personagem é muito divertida: uma tartaruga extremamente mal-humorada que tem TOC", conta Santoro.

"O processo foi diferente de fazer o 'Rio', do Carlos Saldanha. Gravei com Marão numa primeira longa sessão, mas ainda sem estar animado, apenas com o conceito e a base da personagem. Depois de muitos anos - e, sinceramente, eu perdi até a conta de quanto tempo demorou -, voltei ao filme e ajustei. Agora, trabalhei com algumas coisas em cima da animação já pronta. Eu me diverti muito vendo o resultado".

Para Marão, o processo também foi uma festa. "O aspecto mais importante desse filme para mim é que eu só trabalhasse com pessoas que eu amo em todos os cargos da produção, incluindo a direção das vozes", diz o animador. "Exibi um curta meu, há muitos anos, antes do 'Bicho de Sete Cabeças', num festival em que o Rodrigo estava com um curta, no qual fazia um cavaleiro ("Depois do Escuro", de Dirceu Lustosa). Ele e eu estávamos começando ali e eu cruzei com a figura dele, na telona, também me festivais, quando o filmaço da Laís Bodanzky fazia o nome dele explodir. Sempre quis filmar com ele e fiquei muito feliz que isso acontecesse no meu longa de estreia. Quando liguei pra ele, para ver se o santo batia, ele me ouviu atentamente, sem desligar, com toda atenção. Na gravação do 'Bizarros Peixes...', ele era humilde e solícito, sempre trocando com o Briggs, um gigante da dublagem, com grande experiência na direção de vozes. Santoro é uma junção única de talento e humildade".

Best-seller absoluto da literatura policial brasileira atual, ganhador do troféu Jabuti com "Uma Mulher no Escuro, o romancista, roteirista e diretor Raphael Montes concorda com Marão. "Santoro é um ator criativo e parceiro, que mergulha profundamente nos personagens que faz. Em 'Bom Dia, Verônica', nós selecionamos cinco cenas mais importantes de seu personagem, Jerônimo, e lemos juntos, pensando cada frase, debatendo cada escolha de palavra. O texto amadureceu, e Santoro está gigante em cena", diz Raphael.

Sempre com a agenda cheia, Santoro antecipa seus planos para 2024: "O 'Bom Dia, Verônica' estreia no dia 14 de fevereiro e depois, nos próximos meses, vai estrear o filme 'O Outro Lado Do Céu', que fiz com Gabriel Mascaro lá na Amazônia".

 

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