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Cinema na TV: também a maior diversão

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Nos 90 anos de Othon Bastos, comemorados no dia 23 de maio, muito se falou sobre "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (projetado em cópia nova em Cannes, em 2022) e sobre "São Bernardo", que lhe rendeu o troféu Kikito em Gramado, em 1974. Mas há um filme recente que deve sempre ser reverenciado quando se estuda a contribuição magistral do ator baiano para a cultura audiovisual deste país: "O Paciente: O Caso Tancredo Neves" (2018).

Ele será exibido na madrugada deste sábado, às 4h30, na TV Globo. Cedo demais? Tarde demais? Ok, pode ser. Pode ser as duas coisas. Mas o PlimPlim anda exibido filmes brasileiros de requinte aos fins de semana. Na virada de sábado pra domingo, por exemplo, é possível ver o magistral trabalho de Stepan Nercessian como Abelardo Barbosa em "Chacrinha: O Velho Guerreiro", que ganhou espaço em circuito há cinco anos. Passa às 2h45 do dia 23.

Reconstituição histórica de uma das maiores tragédias nacionais, "O Paciente - O caso Tancredo Neves" (2018) é o melhor filme de Sérgio Rezende desde o seu esquecido (mas possante) "Salve Geral" (2009). Seu mergulho no exercício de resiliência de um estadista com sonhos democráticos traduz um sentimento de luto. Recentemente, filmes memoráveis de mulheres documentaristas como "O Processo" de Maria Augusta Ramos, e "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, deram conta, e muito bem, de nossas feridas morais, dando relevo a figuras míticas. Mas a ficção nacional nem sempre é feliz nesse caminho. Rezende foi. Muito!

Instalado numa bifurcação entre o drama e o suspense, equilibrando-se nela pela montagem taquicárdica de Maria Rezende, "O Paciente - O caso Tancredo Neves" transpira tensão em seu esforço de ir além do registro histórico. Seu empenho é tirar seu protagonista da dimensão mítica esquadrinhando seu humanismo, na fragilidade e na perseverança. O foco do roteiro (bem) escrito por Gustavo Lisztein está menos centrado na esfera do político e mais no terreno das fraquezas, entre as quais, a vaidade, encarnada na apavonada figura de um dos médicos do presidente, o Dr. Pinotti, defendido de forma luminosa por Paulo Betti. Na tela, a "cirurgia" de desmitificação simbólica de Tancredo, facilitada pelo desempenho em estado de esplendor de Othon Bastos, é uma operação comum a quase todos os filmes de Sérgio Rezende. É o que faz do diretor de "O homem da capa preta" (1980) um realizador autoral, jogando aqui, num duo, com sua parceria de vida e de obra, a produtora Mariza Leão.

O que se destaca da escalação de "O Paciente - O Caso Tancredo Neves" e de "Chacrinha: O Velho Guerreiro" na Globo é o empenho do canal em potencializar os espaços exibidores de filmes na TV aberta no país. Merece destaque, nesse empenho, a projeção de um épico feminista - "Mulher-Maravilha", lançado por Patty Jenkins em 2017 - na "Temperatura Máxima" deste domingão. Na madrugada do dia 24, serão exibidos os obrigatórios "John Wick - De Volta Ao Jogo" (2017), com Keanu Reeves, e "O Guarda-Costas" (1992), com Whitney Houston e Kevin Costner. Para a próxima "Tela Quente", a atração será "Jumanji: A Próxima Fase".

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