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'Só me arrependo de ter entrevistado João de Deus e Roger Abdelmassih'

Amaury Jr | Foto: Divulgação

Por Ana Cora Lima (Folhapress)

Amaury Júnior almoçava em sua casa em Orlando, na tarde de sábado (22), quando deixou garfo e faca de lado para conversar por telefone com a reportagem. Queria acabar logo com as especulações sobre uma possível demissão ou um suposto desentendimento com a direção da RedeTV!, onde trabalhou nos últimos 21 anos - ele anunciou sua saída na véspera. "Saí numa boa. Foi uma decisão minha. Tenho que cuidar mais dos meus negócios e deixar o vento me levar para onde for o melhor".

No caso, "o melhor" é um canal de televisão próprio, antigo projeto de Amaury. Ele diz que agora há chances. Enquanto não chega o momento de ter a própria emissora, ele quer produzir mais conteúdos e até comandar um talk show para a sua plataforma transmitida no exterior e no Brasil. Pioneiro do colunismo social eletrônico no Brasil, Amaury tornou-se popular em 1982, com o programa Flash, na Gazeta.

Lá se vão mais de 40 anos. Ele agora quer diminuir o ritmo, ter mais tempo para fazer outras coisas. Mas o fato é que não consegue se afastar definitivamente da cobertura de festas e eventos. Confira a seguir a entrevista.

Por que você saiu da RedeTV!, onde trabalhou por 21 anos?

Amaury Júnior - Estava prevendo isso na minha programação de vida. Conversei com Amilcare [Dallevo Júnior, presidente da emissora] e disse que não queria mais continuar porque tenho novos projetos pela minha produtora. Tenho uma plataforma, um canal que passa aqui em Orlando, em alguns estados americanos e no Brasil. Preciso me dedicar mais. Ele concordou comigo e saí numa boa.

Ficou alguma mágoa ou ressentimento?

De jeito nenhum! Nós somos muito amigos, sou padrinho do casamento, padrinho de batismo da Alice, filha mais velha do Amilcare. Foi uma decisão minha. Não estava conseguindo fazer aquilo que eu queria e acho também que chegou a hora de fazer uma revisão no meu tipo de jornalismo, não é? Tenho que cuidar mais dos meus negócios e deixar o vento me levar onde for o melhor.

Vai morar em definitivo em Orlando?

Não. Vou continuar morando no Brasil, onde ainda tenho novos anseios, novas inquietações... Estou muito animado e entusiasmado. Me aguardem.

É verdade que você busca ter seu próprio canal de TV?

Opa! Você acha que eu não estou atrás disso? Quero ter o meu canal e tenho certeza de que seria vitorioso não não só em audiência, como também em publicidade.

O senhor pensa em abandonar a apresentação de uma coluna social na TV?

É um formato que o público gosta e eu também. Se eu vier a voltar com o programa e essa possibilidade existe, eu quero ir aos grandes eventos, viajar e mostrar curiosidades. Também quero fazer um talk show.

Há alguns anos, o senhor disse que se irritava com o "bafo de coxinha" de seus entrevistas nas festas. Cansou de vez?

Não. Mas quero coisas novas. Adoro cobrir eventos, festas, entrevistar as pessoas. Essas conversas me enriqueceram. Bafo de coxinha faz parte.

A entrevista que o senhor fez com o estelionatário Marcelo Nascimento acreditando que ele era Henrique Constantino, filho do fundador da Gol, te marcou?

Todo mundo caiu naquele golpe, principalmente eu, porque estava em um evento como um repórter de TV. Absolutamente genial. Se ele não fosse voltado para o mal, eu queria tê-lo na minha equipe. Ele era bom. Sabia que eu fui na prisão em Cuiabá e falei com ele? Conversamos e percebi o quanto era inteligente, sagaz. Meu feeling ali falhou.

Tem algum arrependimento?

Na vida? Não tenho nenhum e faria tudo de novo. Zero arrependimento, mas profissionalmente me arrependo, sim, de ter entrevistado várias vezes o Roger Abdelmassih (médico brasileiro especialista em reprodução humana, estuprador em série condenado a 278 anos de prisão por 52 violações e quatro tentativas) e também o João de Deus (médium condenado a mais de 370 anos de prisão por estupro). Já pedi desculpas públicas e não canso de pedir.

Um orgulho?

Ter entrevistado o João Gilberto. Fazia uns 10 anos que ele não dava entrevista, ninguém ouvia a voz dele e no último show que ele fez em São Paulo, eu consegui, graças à ajuda de Nelsinho Motta e da Elba Ramalho. Ele via o meu programa adorava, mas tinha pavor de dar entrevistas. Foram 15 minutos de conversa. Foi o máximo.

Quem gostaria de entrevistar?

A Marisa Monte. Eu a adoro e já fiz meu apelo público para ela, e nada. A minha produção entrou em contato com a equipe dela e nunca deu certo.

O senhor ficou rico com a televisão?

Não ganhei propriamente dinheiro com televisão, mas ganhei dinheiro fazendo os eventos. Comparecia às festas de lançamentos de um hotel ou um empreendimento e ganhava. Sempre falo que quando tem o conteúdo comercial, tem que pagar. Se não for comercial, tem que ser algo do nosso interesse jornalístico.

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