Por: LUÍS PIMENTEL JORNALISTA E ESCRITOR

A cara do Rio

1.

Marido aguarda a mulher na sala de espera do consultório, no carioquíssimo Edifício Avenida Central.

Quando ela sai do atendimento, ele quer saber:

- E aí, o que a doutora disse?

- Que não tenho nada. Estou ótima!

- E esse chiado no peito é o quê?

- Só preocupação e nervoso.

E o acompanhante, incrédulo:

- Então jogamos dinheiro fora...

2.

Caminhando pela Rua Uruguaiana, sou abordado pelo garoto que distribui aqueles papelins de propaganda de casas de massagem, cheios de fotos de mulher pelada:

- Aí, tio! Cabeça branca paga meia.

A cara do Rio, né não?

3.

Crianças a caminho da escola, de olhos vendados, transportadas por adultos tão assustados quanto elas, pulando corpos ensanguentados nas vielas da Rocinha, são também, hoje, a cara do Rio. Ou, pelo menos, do Rio que autoridades omissas fazem refletir no nosso espelho diário.

4.

Fotografei o tipo saindo do Metrô no Largo do Machado. Jornal debaixo do braço, dobrado no Caderno de Esportes, bigodinho aparado à la personagem do Dalton Trevisan, olhando pros lados como se estivesse procurando vítimas. Encostou na mocinha que esperava no ponto final do 569 e disparou:

- Conheço você não sei de onde.

A resposta da moça foi nota dez:

- Então melhor mesmo nem saber.

5.

Num ponto de ônibus do Humaitá. Sujeito misto de mendigo e guardador de carro, conhecidíssimo dos moradores do bairro, se aproximou de um engravatado e pediu um dinheirinho:

- O senhor não tem vergonha? Um homem tão jovem, tão forte, tão disposto... por que não vai arranjar um emprego? - berrou o sujeito.

E o mendigo, tranquilão:

- Peraí, amigo. Estou pedindo esmolas e não conselho.

6.

Amiga minha, dentista com consultório no Flamengo, é uma tremenda gozadora. Dia desses recebeu um sujeito que queria porque queria arrancar um dente. Perguntou o preço.

- Trezentas pratas - ela respondeu.

O paciente chiou:

- O que é isso, doutora? A senhora não leva nem dez minutos para arrancar um dente.

E a gozadora, alisando o boticão:

- Se o senhor fizer questão, posso arrancá-lo bem devagarinho.

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