Por: LUÍS PIMENTEL JORNALISTA E ESCRITOR

Maracanã, adeus

O título vem por empréstimo compulsório de livro de contos do ficcionista Edilberto Coutinho (1938-1995), mais um na galeria dos injustamente esquecidos, paraibano que fez do Rio sua morada, do futebol sua paixão e da literatura seu porto seguro.

Que nem o baiano autor dessas reminiscências.

Recém-desembarcado na Rodoviária Novo Rio, fui ver o Flamengo (amor de infância, dividido irmãmente com o Esporte Clube Bahia) e conhecer o maior do mundo, subindo a rampa (era relaxante e idílico o politicamente incorreto xixi na rampa, contemplando as luzes da Tijuca) como quem encara as escadarias do Bonfim, para abrir os braços no vão superior da arquibancada, olhos arregalados e boca aberta diante das bandeiras rubro-negras, do sol que banhava o gramado e as quatro linhas:

- Vixe!

- É a primeira vez? - perguntou o conterrâneo, reconhecendo o sotaque.

- É.

- Acalme-se. O bicho assusta mesmo.

Quantas vezes voltei ao bicho, sozinho, com amigos (entre eles a futura mãe do meu filho), depois com o meu filho. Filas na bilheteria, filas na roleta, filas para a cerveja e o cachorro-quente, filas para pegar lugar na sombra ("Quem for Flamengo levante o dedo / Que hoje é dia de futebol / No Maracanã vou chegar mais cedo / Pra pegar lugar que não tenha sol" cantava Big Boy).

- Deus me livre! Não volto mais...

No domingo seguinte estava lá novamente (se não tivesse jogo na quarta-feira).

E o suplício no Fla Bar para conseguir uma cerveja gelada?

Um amigo descobriu, ouvindo a conversa entre o vendedor e um cliente, que o pai do primeiro chamava-se Aloísio. Pronto. Daí em diante, era só gritar, mesmo de longe:

- Ô, fio do Aloísio!

As garrafas chegavam em segundos, feito milagre.

O milagre de ver tantas vitórias que pareciam impossíveis de acontecer. A emoção de ver Zico estrear, brilhar, sair, voltar, se machucar, encerrar a carreira. Receber a bola na intermediária e partir rumo ao gol adversário como se não houvesse amanhã, o coro da torcida nos ouvidos: "Vamos, Galo! Vamos, Galo!! Pra cima deles, Galo!!!"

E o Galo ia, como se nos ouvisse.

A última vez que fui lá foi novamente com o meu filho (ele já cuidando muito mais de mim que eu dele). Só tive certeza de que era o Maracanã porque novamente jogava o Flamengo e se ouviam os gritos de "O Maraca é nosso"! A coluna não se adaptou aos banquinhos de PVC (cadê a arquibancada para estirar as costas atrás e as pernas à frente?) e as filas da cerveja e do banheiro estavam pateticamente organizadas ("Não põe corda no meu bloco").

- Deus me livre! Não volto mais.

Ah, Maraca. Hei de voltar. E desta vez com o meu neto.

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