Por: Sérgio Cabral*

Doença não tem hora para acontecer

Unidades de Pronto Atendimento 24h estão espalhadas em todos os Brasil | Foto: Divulgação

Recebi durante meus mandatos muitos governadores e prefeitos desejosos de conhecer a experiência das Unidades de Pronto Atendimento 24 horas, as UPAs 24h.

Esse modelo de atendimento à população me veio à cabeça em 1996, quando fui candidato a prefeito do Rio, eleição que Luiz Paulo Conde, querido e saudoso amigo, me venceu no segundo turno.

No grupo de estudos da área de saúde, enquanto me preparava como candidato a prefeito, não entendia por que entre o posto de saúde, que atende à população de 8h às 17h, e a emergência dos hospitais, que atende casos graves e gravíssimos, não havia uma unidade de saúde intermediária.

Não era justo que pais sofressem nas filas da emergência por atendimento ao seu filho, com febre alta e mal estar, enquanto os médicos da emergência eram obrigados a fazer a trágica "escolha de Sofia".Infartados, baleados ou a criança com febre e tosse? O idoso com mal estar ou o paciente atropelado?

Dez anos depois, em 2006, venci a eleição para governador. Escolhi como Secretário de Saúde o médico ortopedista Sérgio Cortês. Ele me foi apresentado pelo colega e amigo, no Senado Federal, Tião Viana. Tião é médico infectologista especializado em doenças tropicais. Foi também governador do seu estado, o Acre. Relatou-me entusiasmado o trabalho de Cortes como diretor do INTO, no Norte do Brasil. Cortes foi também o interventor do governo Lula na crise da saúde na cidade do Rio no início dos anos 2000.

Quando ganhei a eleição e o escolhi, em meados de novembro de 2006, já no primeiro encontro expus o meu sonho de implantar unidades 24h que atendessem à população com dignidade.

Em maio de 2007 inaugurávamos a primeira UPA 24h do Brasil, no Complexo da Maré, na Vila do João. Ela continua lá até hoje atendendo a milhares de pessoas e salvando vidas.

No primeiro semestre de 2009, o presidente Lula foi à inauguração da UPA 24h de Campo Grande, na zona oeste do Rio. À época, já eram dezenas de UPAs espalhadas pelo Grande Rio. Ficou impressionado com o que viu e, no mesmo ano de 2009, em dezembro, Lula inaugurou a primeira UPA 24h fora do Rio, em sua querida São Bernardo do Campo. Teve a gentileza de me convidar e me homenagear na cerimônia de inauguração, junto com o então prefeito e amigo, Luiz Marinho.

Hoje são centenas de UPAs 24h no Brasil. No meu estado do Rio são mais de 50. Claro que o seu funcionamento depende, essencialmente, de gestão. Mas o modelo veio para ficar. Ele é, de fato, a intermediação entre a saúde primária e a emergência dos hospitais.

Durante a COVID, da minha cela, agradecia a Deus por ter me permitido implantar um projeto que salva tantas vidas no país.

*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.