Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Para Lula, o 'Almirante Negro' foi um herói nacional

Presidente Lula participa, em 2008, no Rio, da inauguração da estátua de João Cândido Felisberto | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Ofendido pelo comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, já foi chamado de herói nacional pelo presidente Lula.

Chefe de Olsen, Lula participou, em 2008, da inauguração da estátua do 'Almirante Negro' no Centro do Rio — foi quando enalteceu o heroísmo do homenageado. "Só conhecendo a nossa história é que vamos formar uma consciência política", afirmou. A solenidade foi no Dia da Consciência Negra.

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Presidente Lula participa, em 2008, no Rio, da inauguração da estátua de João Cândido Felisberto | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em carta ao presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, Aliel Machado (PV-PR), Olsen classificou João Cândido e seus companheiros de "abjetos marinheiros". Chamou de "fato opóbrio" (vexaminoso, vergonhoso) a revolta de 1910 contra a prática da Marinha de chicotear marujos punidos por ordens de oficiais.

 

Pressão militar

A carta de Olsen foi para pressionar a Comissão de Cultura a não aprovar o projeto que inclui João Cândido no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. No documento, ele chamou a Revolta da Chibata de "Revolta de Marinheiros" e disse que seu estopim foi a "atuação violenta" dos marujos.

250 chibatadas

Mas o que detonou a revolta foram as 250 chibatadas aplicadas ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes. Os marujos assumiram o controle de quatro navios na Baía de Guanabara e chegaram a disparar contra o Rio: como frisou Olsen, duas crianças foram mortas por um tiro.

O dia do voto

À coluna, Aliel Machado disse que o projeto será votado em 8 maio. Para ele, a Revolta foi um ato heróico contra a violência e o racismo então institucionalizados na Marinha. Na carta, Olsen reconheceu que havia a "prática inaceitável" de "castigos físicos" nos navios.

Punições

Em 1910, João Cândido e os demais marinheiros receberam anistia, mas acabaram expulsos pela Marinha. Alguns foram torturados; outros, fuzilados. O líder da Revolta foi preso e internado num hospício. Em 2008, ele e seus companheiros foram anistiados por Lula.

João Cândido virou música e enredo de escolas

O marinheiro liderou a Revolta da Chibata | Foto: Reprodução/Prefeitura São João de Meriti

A história de João Cândido inspirou o samba "O mestre-sala dos mares" composto, em 1975, por João Bosco e Aldir Blanc. Censurada pela ditadura, a letra sofreu sucessivas modificações para ser liberada.

O título "O almirante negro" teve que ser trocado. Na letra, a citação da mais alta patente da Marinha foi substituída por "navegante". O verso que tratava das rubras cascatas nas costas "dos negros pelas pontas das chibatas" foi trocado por "dos santos entre cantos e chibatas".

No último Carnaval, João Cândido foi o enredo da Tuiuti; em 1985 foi tema do desfile da União da Ilha e, em 2003, da paulistana Camisa Verde e Branco.

O alvo

O anúncio da pré-candidatura do deputado Rodrigo Amorim (União) para a prefeitura do Rio indica que a direita tentará, nos debates, submeter o prefeito Eduardo Paes (PSD) a um tiroteio verbal. Os bolsonaristas se uniriam para desgastar o candidato à reeleição.

Novos padres

Ex-diretor da Abin, o deputado Alexandre Ramagem (PL) é o candidato indicado por Jair Bolsonaro. Amorim e o deputado Otoni de Paula (MDB) entrariam na disputa no papel de Padre Kelmon, que participou da eleição presidencial apenas para fustigar Lula.