Por: POR FERNANDO MOLICA

Chefe da PM, Tarcísio de Freitas também precisa ser punido

Os ex-capitães Derrite (PM) e Tarcísio de Freitas (Exército) | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) não pode ficar impune nos casos dos crimes cometidos por policiais militares, seus subordinados. A Constituição paulista diz: "O Estado manterá a Segurança Pública por meio de sua polícia, subordinada ao Governador do Estado" — o artigo repete o princípio do que está explícito na Constituição Federal.

Depois de questionar o uso de câmeras corporais por PMs, Tarcísio deu diversas outras demonstrações de incentivo à violência e ao arbítrio policial, a começar pela nomeação de seu secretário de segurança, o capitão da PM Guilherme Derrite, que foi capaz até de ser afastado da Rota por excesso de letalidade. Como secretário, Derrite cumpre o que dele se esperava, segue as orientações gerais de seu chefe.

Em março deste ano, questionado sobre a matança promovida pela sua PM na Baixada Santista, o governador foi explícito: "Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí", disse.

Nem no período mais duro da ditadura, durante o combate a grupos de esquerda que tentavam implantar processos guerrilheiros no Brasil, um general deu em público uma autorização assim. Eles falavam em combate à subversão, ao terrorismo, mas não assumiam de maneira explícita, diante de jornalistas, que se lixavam para casos de abuso, que seus subordinados tinham carta branca.

Havia uma grande preocupação com a chamada imagem do Brasil no exterior. Denúncias — verdadeiras — de torturas e assassinatos por parte de agentes públicos eram sistematicamente negadas.

Ex-capitão do Exército, Tarcísio conhece bem a cadeia de comando nas Forças Armadas e na PM. Esta, segundo a Constituição Federal, é organizada "com base na hierarquia e disciplina". A PM é também força "auxiliar e reserva do Exército".

Ele sabe que, como dizem e repetem os fardados, uma tropa reflete seu comandante. E ele, que tantas vezes exaltou sua liderança sobre a PM paulista, não pode fugir de sua responsabilidade na hora em que tantos casos vêm à tona.

Ele não tem o direito de, diante de repetidos e comprovados abusos, jogar a responsabilidade sobre os executores de sua política de segurança. Retirar sua culpa seria o mesmo que isentar os presidentes da República do período militar de qualquer ônus pelos crimes cometidos nos porões pela rataria.

Cultuado pelos que nele veem a quadratura do círculo do bolsonarismo moderado, Tarcísio, várias vezes, demonstrou sua identidade de princípios e ações com o líder maior. Não é um político da direita civilizada que, às vezes, escorrega no extremismo, mas o contrário — trata-se de um radical que, de vez em quando, posa de moderado.

Ele e Bolsonaro jogam parecido: a menos que, no dicionário institucional brasileiro, não seja considerado extremista quem estimula a matança de pobres e negros, de supostos bandidos. Para o tal do mercado, matar ou não matar não chega a ser uma questão, desde que seja preservado o equilíbrio fiscal.

Tarcísio e outros políticos surfam no pega-mata-come gritado por uma boa parte da população assustada com a violência. Mas, como governantes, precisariam atuar de maneira oposta, racional — num linchamento, cabe à polícia, representante do Estado, interromper a ação da multidão, não estimulá-la.

Os casos de violência policial deveriam servir também de alerta aos cidadãos que tanto aplaudem esse tipo de crime, afinal, ninguém está livre do arbítrio. Como na letra da música que serviu de tema para o filme "Tropa de elite": quem pega um, pega geral, também pode pegar você. Qualquer um pode ser jogado do alto da ponte.