Moser: o culpado

A saída de Ana Moser é lamentável, mas reflete sua falta de apoio político e também de uma formulação, mais ampla e independente de pessoas, de propostas para o desenvolvimento da prática esportiva.

Por Fernando Molica

O poder do voto: Os representanttes dos eleitores no Congresso definem os rumos do nosso país.

O grande responsável pela queda de Ana Moser do Ministério do Esporte não é Lula nem Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, mas o eleitor. Foram os cidadãos brasileiros que, em outubro passado, votaram no petista para presidente e não lhe deram maioria na casa dos deputados federais. 

No primeiro turno, Lula teve o apoio de 48,43% dos eleitores; no mesmo dia, os dez partidos de sua coligação receberam votos para eleger 122 deputados federais,  23,78% dos 513. O PDT, partido de centro-esquerda, que lançou Ciro Gomes ao Planalto, garantiu 17 deputados. Com eles na soma, o presidente teria, em tese, apenas 27% da Câmara.

O voto para presidente, governador e prefeito tende a ser mais ideológico e pensado. Ainda que presentes nas eleições para o Executivo, fatores como amizade, simpatia, representatividade regional, máquina política e recebimentos de favores são ainda mais decisivos na disputa por cargos no Poder Legislativo. 

O uso de números para identificação de candidatos, necessário para a imprescindível urna eletrônica, também contribui para uma não ligação entre candidatos ao governo e seus aliados. Só pessoas muito ligadas ao universo político associam a maioria dos partidos às suas respectivas dezenas. 

Talvez haja também um desejo de equilíbrio por parte do eleitor que, ao votar em candidatos de partidos diferentes, evite dar poder demais a um grupo político. Fora que, de um modo geral, cidadãos nao se encaixam nos conceitos mais genéricos de direita e esquerda.

A indefinição programática dos partidos contribui para isso. A grande maioria deles  sequer pode ser vista como de esquerda ou de direita, nem mesmo como de um tão falado e nunca bem definido centro. Como no título de uma antiga peça de teatro, eles querem é poder.

Virou jargão dizer que o Congresso é conservador: sim, mas no sentido de que parlamentares querem, principalmente, conquistar e conservar benesses, não importa de que lado venham.

Dá pra dizer que metade da Câmara não é de esquerda nem tem compromissos com a direita. Há uma maioria conservadora nos costumes e nas práticas políticas, mas isso não impede que se possa dar um passo mais à esquerda, depende da recompensa.

Veterano na política, mestre em fazer concessões em nome da tal da governabilidade, Lula, ao entregar ministérios ao PP e ao Republicanos (como já fizera com o MDB, PSD e União Brasil), acaba cumprindo um desejo que, mesmo por vias tortas, foi manifestado pelo eleitor.

É péssimo que partidos lutem por ministérios menos pela oportunidade de implantar políticas públicas previstas em seus programas e mais pela chance de abocanhar e distribuir favores, mas isso faz parte do jogo — e cabe à polícia e ao Ministério Público apurarem eventuais irregularidades.

A saída de Ana Moser é lamentável, mas reflete sua falta de apoio político e também de uma formulação, mais ampla e independente de pessoas, de propostas para o desenvolvimento da prática esportiva.

No mais, não custa lembrar a frase atribuída ao ditador Joseph Stalin ao, em 1935, saber que o Vaticano veria com bons olhos uma aliança entre a União Soviética e a França contra a Alemanha nazista: "Quantas divisões tem o papa?", ironizou. Ana Moser não tinha soldados no Congresso Nacional.