Por: Fernando Molica

Lição para os militares

O próprio presidente Lula convidou pessoalmente autoridades para o evento | Foto: Ricardo Stuckert/PR

A quantidade de militares indiciados pela CPMI do 8 de Janeiro — entre eles, oito generais — mostra o tamanho da encrenca que as Forças Armadas arrumaram para si ao embarcarem num projeto político comandado por um ex-capitão.

Agora, as FFAA procuram desvincular as instituições dos fardados que atuaram para desacreditar as urnas eletrônicas e o processo eleitoral, que conspiraram contra a democracia. Fulanizar o problema é importante em termos penais, mas isso, por si só, não resolve a encrenca. Militares são unânimes em dizer que seus comandantes falam pelas respectivas forças — e entre os indiciados há três que exerceram o cargo durante o mandato de Jair Bolsonaro.

Em novembro de 2022, os três comandantes militares emitiram uma nota em que respaldavam manifestações golpistas diante de quartéis (áreas de segurança militar) citavam um (inexistente) papel moderador das Forças Armadas. Em democracias, militares não precisam falar em preservação da democracia. Ajudam a preservá-la quando cuidam de suas missões constitucionais.

O empenho das FFAA na campanha contra as urnas eletrônicas também evidencia a adesão ao bolsonarismo. Além de embarcarem na fantasia da fraude, as FFAA chegaram ao ponto de estimular uma crise institucional com o Tribunal Superior Eleitoral.

Não é razoável, portanto, tentar reduzir os muitos desvios à atuação desse ou daquele militar. Houve sim uma adesão coletiva, irresponsável e inconstitucional a um projeto político que pregava uma ruptura do processo democrático.

Para efeitos processuais e penais, as responsabilidades — vale repetir — têm que ser individualizadas de maneira correta e sem excessos ou exceções. Golpistas, fardados ou não, precisam ser punidos como prevê a lei.

Mas a adesão ao bolsonarismo revela que é preciso mexer na estrutura das Forças Armadas, que não podem mais ficar sujeitas a qualquer tipo de contaminação ideológica. A distorção foi tamanha que, nos últimos anos, voltou a ser importante decorar nomes de chefes militares, algo que havia caído em desuso depois da redemocratização.

É preciso que as FFAA passem a combater, desde o processo de formação dos futuros oficiais, a lógica salvacionista que vem desde o golpe que implantou a República e gerou o tenentismo. A tentativa irresponsável de tomada de poder pelos comunistas em 1935  deve ser encarada como fato histórico, não como um fantasma prestes a assombrar os quartéis.

Este processo deve necessariamente incluir uma revisão, por parte dos militares, do papel das FFAA na ditadura implantada em 1964, ápice de um longo período de politização das casernas. Homens e mulheres encarregados de defender o Brasil não podem temer a história, não devem esconder o que foi feito.

O furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra, em Barueri (SP) também deveria servir de alerta aos militares que, há um ano, estavam preocupados com urnas eletrônicas.  Numa ironia histórica, cuidaram das urnas e se descuidaram das armas.

 

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