Por: Fernando Molica

O caminho das armas

Arsenal de armas apreendidas em uma única localidade pela PF na Operação DAKOVO. | Foto: Polícia Federal/Divulgação

A operação da Polícia Federal contra uma quadrilha que, segundo as investigações, forneceu 43 mil armas para facções criminosas brasileiras mostra, mais uma vez, o jeito mais acertado de se combater as diferentes formas de tráfico.

Foram presas cinco pessoas no Brasil e 14 no Paraguai — e, pelo jeito, não houve tiroteio, mortes, balas perdidas que costumam encontrar o corpo de tantos inocentes. Não foi mais uma das, em média, seis operações policiais diárias no Estado do Rio de Janeiro  que geram muito barulho, poucos resultados e uma sequência de mortes de pobres: bandidos, moradores de favelas e policiais de baixas patentes.

Nas últimas quatro décadas, o tráfico de drogas mudou bastante por aqui. Deixou de ser uma atividade focada no varejo para se tornar uma organização de caráter nacional e internacional, que movimenta muitos bilhões de reais. As frequentes matanças no Norte e do Nordeste revelam a expansão de facções originadas em São Paulo e no Rio, suas guerras e alianças com outros grupos, suas ligações com garimpo ilegal, sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro e de corrupção.

Não dá mais pra falar em caixinha da polícia, em acordos de bandidos com policiais isolados ou com um batalhão ou uma delegacia. Grandes organizações criminosas só existem graças a esquemas muito azeitados com integrantes não apenas de corporações policiais, mas também de outras e mais poderosas esferas estatais — aí incluídos integrantes dos três poderes.

Menos por incompetência e mais por interesse, a máquina de segurança dos estados não acompanhou a modernização do crime. Até hoje, candidatos a cargos políticos e governantes insistem em associar o combate à bandidagem ao estímulo a uma polícia violenta, tratam de reciclar o bandido-bom-é-bandido-morto, enaltecem operações que geram dezenas de mortos. Muitos vão a público comemorar o que chamam de cancelamento de CPFs alheios para garantir a manutenção de seus, digamos, CNPJs informais ou clandestinos.

As bravatas ocupam o espaço de uma discussão efetiva sobre segurança pública, renovam o racismo e associação de pobres e pretos à marginalidade, inibem planejamento adequado e ações voltadas para o combate à origem e financiamento do crime. O combate aos camelôs das drogas é excelente para deixar intocados esquemas de contrabando e de descaminho.

Assustada — todos nós temos medo da violência e da criminalidade —, boa parte da população tende a aplaudir as matanças, a condenar e a ironizar qualquer referência à expressão direitos humanos que, no país, ganhou conotação pejorativa. Muitos parecem não entender que polícia violenta é, quase sempre, corrupta. O Ministério Público, a quem cabe o controle externo da atividade policial, é, de um modo geral, omisso e, portanto, conivente.

Nenhum profissional pode ter autorização para fazer o que bem entender, sem nenhum tipo de supervisão: vale para policiais, políticos, médicos, motoristas de ônibus, jornalistas, pedreiros, engenheiros, advogados, porteiros de prédio. Todos precisamos temer as consequências de abuso de prerrogativas profissionais.

E, por falar nisso, também é fundamental elogiar aqueles que fazem um serviço bem-feito, que serve de exemplo — ao que tudo indica, é o caso dos policiais federais envolvidos na operação de ontem.

 

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