Por: Fernando Molica

A briga pela venda dos livros

Livrarias buscam reconquistar clientes. | Foto: John Michael Thomson/Unsplash

No mercado varejista do livro, quase todos que gritam têm alguma razão. A pandemia, ao restringir o contato social, e a falência de grandes redes como Saraiva e Cultura estimularam a venda on-line, o que afetou muito as livrarias. Pesquisa da Câmara Brasileira do Livro mostrou que, entre a minoria dos brasileiros que compram livros (16% da população), 55% preferem as lojas virtuais.

Livreiros, que têm despesas como qualquer comerciante, reclamam da concorrência desleal da Amazon, que dá grandes descontos pouco depois de um livro ser lançado. Também fazem cara feia para editoras que, por venda direta, oferecem seus produtos a um preço inferior ao que estabeleceram. 

Editoras frisam que bancam o investimento num livro (seleção de originais, edição, diagramação, tradução, revisão, capa, impressão, direitos autorais) e que as livrarias, de um modo geral, trabalham num esquema de consignação, só pagam pelos livros depois de vendê-los.

Ressaltam também que livrarias ficam com entre 40% e 50% do preço de capa de cada exemplar. Isso faz com que algumas editoras menores optem pela venda direta, o que diminui a visibilidade dos livros.

De um modo geral, editores e livreiros concordam que seria necessário imitar países como a França, que praticamente proíbem descontos para livros novos. Há dois meses, o Senado brasileiro promoveu audiência pública para debater projeto de lei de 2015 que trata do tema.

Pelo projeto, no primeiro ano depois de lançado, um livro só poderia ser vendido ao consumidor com um desconto máximo de 10% (na França, o prazo é de 18 meses e o desconto, de 5%). O país europeu também passou a exigir valor mínimo para a cobrança do frete no envio de livros. 

Mas como fica o leitor que, graças aos descontos de lojas virtuais, consegue comprar mais livros? Editoras afirmam que a adoção de um preço mínimo não representaria um aumento no preço final, já que daria previsibilidade ao mercado e estimularia a competição. Lembram também que uma rede de bibliotecas públicas é fundamental para aumentar as tiragens, diminuir os preços e tornar o livro mais acessível.

Não é fácil equacionar tantas variantes, razões e interesses. Mas qualquer discussão tem que partir da necessidade de preservação de editoras e livrarias: sem elas, não haverá livros e, no fim das contas, autores e leitores. Várias livrarias perceberam que é preciso buscar outros caminhos, como a realização de mais eventos que atraiam público para suas lojas, não podem depender apenas da venda rotineira.

Governos ajudariam se ampliassem bibliotecas e adotassem, nas escolas, livros de autores convidados para suas feiras literárias. Não dá também para entregar ao mercado solução para um produto tão particular quanto o livro, mas é preciso equilibrar as vozes para que todos não acabem mudos

 

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