Por: Fernando Molica

O City e a nova ordem mundial

Manchester City, equipe campeã do Mundial Interclubes FIFA 2023. | Foto: Acervo Manchester City

Mais do que um jogo de futebol, a goleada do Manchester City sobre o Fluminense ilustra a tal nova ordem econômica mundial. Foi como se o pessoal da Faria Lima encarasse um combinado de Wall Street — nossos craques do mercado seriam impiedosamente chifrados pelo touro que decora o centro financeiro do mundo.

Foi-se o tempo em que disputa entre campeões da América e da Europa era minimamente equilibrada, em que cada time era formado por jogadores de seus próprios países, com uma outra exceção. Os continentes futebolísticos ficavam mais perto.

O que nos sobra hoje é formar equipes com ótimas promessas — o ainda palmeirense Endrick e o tricolor John Kennedy —, alguns bons jogadores que não tiveram espaço nas ligas europeias e veteranos. Aqueles que levaram um jornal inglês a comparar o Flu com times que fazem jogos beneficentes. O fenômeno também pode ser verificado por aqui: há cinco anos que o título da Libertadores fica com clubes do país mais rico, o Brasil.

O fenômeno vai no vácuo do que ocorre nos demais setores da economia, quem já tinha mais passou a ter muito mais. O processo de acumulação pode ser visto por todos os lados, grandes empresas acabaram engolidas por outras ainda maiores, multiplicaram-se as corporações sem dono explícito, quase todas com capital fatiado entre diversos grupos e fundos internacionais.

Principal acionista — ainda que minoritário — da Ford, o Vanguard Group é um gestor de fundos de investimentos que também é dono de pedaços de empresas como Coca-Cola, Pepsi, Twitter, Amazon, Microsoft, Monsanto, Uber e tantas outras. Ficou difícil ou mesmo impossível personalizar críticas a esta ou aquela corporação. Uns poucos são donos de tudo.

No limite, o City jogou pertinho de casa em casa na última sexta, já que pertence a um sheik árabe, Mansour bin Zayed bin Sultan bin Zayed bin Khalifa Al Nahyan, acionista da Ferrari, vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos — sua família seria dona de 10% do petróleo do mundo.

Assim como outros dos grandes times do futebol internacional, o City nem deveria mais ser chamado de clube, palavra que remete a uma associação recreativa, cultural e esportiva. Trata-se de uma grande empresa que tem como finalidade disputar e vencer jogos e torneios.

O novo campeão mundial de clubes integra um movimento já antigo na Europa e nos Estados Unidos e que ainda dá seus primeiros passos no Brasil. Uma tendência, que mais ou cedo ou mais tarde, tende a ser majoritária por aqui.

O problema é que será praticamente impossível fazer com que times brasileiros possam chegar perto da grana das grandes corporações do futebol internacional. O faturamento destas empresas está ligado ao mercado publicitário de cada país ou bloco econômico, o que já nos coloca em desvantagem em relação à União Europeia.

O jogo está mais do que jogado, nossos melhores times não teriam qualquer chance de ganhar campeonatos como o inglês ou espanhol. Vamos continuar na função de coadjuvantes no Mundial de Clubes, o que ficará mais grave com o novo formato definido pela Fifa. Pouco nos sobrará além de um fugaz domínio, como aqueles dois minutos e pouco em que Fluminense envolveu o City. Nosso lugar é o de bobinho na roda. 

 

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