Pressionado pelas investigações da Polícia Federal, Jair Bolsonaro (PL) decidiu jogar na rua. Ao convocar uma manifestação popular em sua própria defesa, o ex-presidente bota em campo as armas de que dispõe, tenta reeditar algo que começou a dar certo por volta de 2014, usar atos públicos para influenciar o Judiciário, em especial, o Supremo Tribunal Federal.
Na época em que a Lava Jato e o Congresso apertaram o cerco contra o PT e Dilma Rousseff, simpatizantes dos alvos das investigações também convocaram manifestações, conseguiram reunir bons públicos, ainda que não comparáveis à enxurrada de gente que se reunia com a oposição. A correnteza seguia em outro rumo, mesmo dentro da esquerda muita gente não se sentia capaz de defender tantos erros e, mesmo, crimes cometidos em administrações comandadas pelo partido.
No auge da Lava Jato, o STF mandou às favas ritos básicos do Judiciário, abriu as janelas para as ruas, e decidiu que ir para onde boa parte do povo estava. Acabou cúmplice das pedaladas processuais de Sérgio Moro e teve que, depois, mudar o que havia decidido, idas e vindas que marcam a corte e enfatizam seu viés político.
Bolsonaro sabe o que fez, como conspirou. As gravações obtidas pela PF surpreendem pela cara de pau, pelo linguajar usado em palácio e pelas cenas de golpismo explícito, mas ninguém pode dizer que não esperava que o então presidente fosse tomar atitudes semelhantes. Suas seguidas declarações com ameaças à institucionalidade traçaram o caminho que explodiria à frente.
Chamar o STF pra brigar na rua não é ilegal, Bolsonaro poder questionar alguns atos judiciais — o imobilismo do então procurador-geral da República, Augusto Aras, fez com que a corte, em alguns casos, fosse mesmo além de suas togas.
Mas as evidências contra Bolsonaro e sua trupe são muito claras, e a lei é explícita ao dizer que tentar aplicar golpe é crime (depois da virada de mesa não haveria como punir golpistas). Por mais radicais que sejam os bolsonaristas, uma parte deles sabe o que o ex-presidente fez e o que tentou fazer, nem todos estariam dispostos a defender o que parece ser indefensável.
Ao botar o time no ataque, o ex-presidente pressiona o adversário, mas sabe que abre buracos ainda maiores em sua defesa. Na convocação para a manifestação, Bolsonaro usou a velha camisa amarela, uniforme de tantos atos. Mas ninguém veste a mesma camisa duas vezes, o amarelo que tentava traduzir patriotismo e indignação hoje remete a golpismo e a chave de cadeia; a repetição acaba soando como farsa. Sem falar que a seleção anda pisando na bola.