Setores importantes do Centrão avaliam que o maior problema do governo está no quesito harmonia. Em linguagem carnavalesca, é como se intérprete e bateria não se entendessem no andamento do samba e a porta-bandeira desse com o mastro na cabeça do mestre-sala, que antes tentara derrrubá-la na Avenida.

"Eles (integrantes do governo e suas lideranças no Congresso) se autodestroem, um não cumpre o acordo que o outro acerta, eles trabalham contra eles mesmos", diz o líder de um partido mais ou menos da base.

Para ele, o tão criticado Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, não passa de um boi de piranha atacado por todos os lados por peixes de dentes pra lá de afiados e que competem entre si.

O líder cita como exemplo o fato de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não ter sido informado com antecedência do plano de desenvolvimento industrial lançado pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. O chefe da economia sequer foi à cerimônia.

O pagamento de emendas na Saúde é outro gargalo. Segundo o parlamentar, casos de concessões de verbas por critérios pouco claros se repetem pelo país. Já cidades que receberam indicações de deputados e senadores aliados ficaram de pires na mão.

Como a coluna publicou, na conversa que tiveram na sexta, Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acertaram que técnicos da Saúde iriam reunir dados sobre liberação de emendas. O material será analisado com a Câmara.

Mas não será surpresa se houver um encontro de Lira com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Por ser dona do maior orçamento da Esplanada dos Ministérios e pela capacidade de influenciar diretamente na vida dos municípios, a Saúde é alvo preferencial do universo político. E o Centrão quer muito o cargo dela. A briga é tanta que Lira mandou requerimento de informações solicitando dados sobre pagamento de emendas.

Lira não está nem aí para os que dizem que ele dificulta a vida do governo. Tem repetido que, em 2023, ajudou a aprovar pautas essenciais. Só a cobrança de impostos de impostos de fundos exclusivos e de aplicações no exterior gerou R$ 20 bilhões pro caixa federal.

Uma articulação entre o Congresso e o governo destinou R$ 200 milhões para a Embratur no orçamento de 2024. No Sambódromo, Lira disse que a agência que cuida da promoção do turismo no exterior não teria dinheiro sequer pra pagar a folha salarial de julho.

Havia outro motivo para a alegria de Lira no desfile da Beija-Flor. Seu pai, Benedito de Lira, tem o mesmo nome do homenageado pela escola, Benedito dos Santos, o Rás Gonguila. Benedito também é o nome do pai de Neguinho da Beija-Flor, o querido intérprete da escola.

Ninguém fala nada em público, mas todos sussurram em versos e trovas

e combinam no breu das tocas: com a operação da Polícia Federal, a candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura subiu num telhado mais alto que o Arco da Apoteose.