Por: Fernando Molica

A aula dos alunos do professor Flávio

Professor Flávio Bezerra Lima é homenageado por alunos | Foto: Reprodução

Em meio à tragédia gaúcha agravada por fake news terroristas, a imagem do corredor de afeto em torno de um professor de filosofia que se aposentou renova a esperança e a possibilidade de razão e emoção andarem juntas.

Um vídeo que viralizou mostra o que ocorreu no último dia em que Flávio Bezerra Lima deu aulas no Centro de Ensino Médio 01, escola pública de Brazlândia, no Distrito Federal — ele trabalhou durante 20 anos lá.

Alunos ocuparam o corredor por onde ele iria passar e trataram de preencher aquela despedida com aplausos e carinhos. De calça jeans, camisa cinza, bolsa a tiracolo e cheio de papéis sob um dos braços, o professor não escondeu a supresa e as lágrimas ao desfilar entre os jovens.  

O que rolou por ali foi muito mais do que uma homenagem a um sujeito que, pelo visto, honrou a profissão. Aquela manifestação foi um gesto político de afirmação do conhecimento e da liberdade, de luta contra o obscurantismo e o negacionismo.

Nunca foi fácil ser professor, mas a situação piorou muito nos últimos anos, quando a necessidade de busca do saber foi, em tantos casos, combatida por aqueles que temem o novo, que tentam congelar o tempo e o aprendizado, que se fecham em suas certezas, que negam o papel sempre revolucionário da busca por outros futuros.

Escolas não foram feitas apenas para transmitir saberes acumulados; existem para desbravar, questionar, surpreender, encontrar novas saídas e possibilidades de entendimento do mundo, de tantos mundos.Têm obrigação de apostar em caminhos cuja existência sequer é sabida.

A onda conservadora passou a maltratar professores, tenta impedir que eles cumpram seu papel de desafiar os alunos, de fazer com que eles busquem futuros mais produtivos e felizes. Um processo que, dá pra supor, tenha sido particularmente cruel com os encarregados de lidar com o pensamento, com a filosofia, que lida com a necessidade de questionamento — nada do que foi será, como canta Lulu Santos.

Não sei do professor Flávio quase nada além do que está no vídeo de 01'06, mas arrisco dizer que ele é um cara muito legal, que acolheu e instigou seus alunos. Não deve ser má pessoa um sujeito que consegue despertar tanta admiração e carinho por parte de jovens, pessoas naturalmente questionadoras.

Parabéns, professor. E obrigado, alunos que fizeram a homenagem. Naquele corredor, vocês mostraram que aproveitaram bem o que foi dito e debatido no colégio, aprenderam e ensinaram novas lições. Com seus gritos e aplausos, deram um grande presente ao mestre, ministraram a última aula de sua carreira.