O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram surpreendidos com a decisão do senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) de retirar o "imposto das blusinhas" do seu relatório do projeto que trata de incentivos à produção de veículos sustentáveis.

Irritado com a atitude de Cunha, Lira ligou para Haddad, que está no exterior, para reclamar. O presidente da Câmara foi o responsável pela inclusão do "jabuti" que prevê a taxação de 20% sobre compras de até US$ 50 feitas em sites estrangeiros. Disse a Haddad que o governo precisava honrar o acordo feito com Lula. O ministro ligou para o líder do governo no Senado, Jacques Wagner (PT-BA), e pediu pro artigo ser recolocado no projeto.

Wagner então propôs o adiamento para hoje da votação do projeto, o que foi recebido com alívio por setores da oposição. Há entre eles a busca pela manutenção do discurso contra o aumento de impostos, mas querem evitar atritos com empresários brasileiros.

Em reunião ontem à tarde, senadores como Esperidião Amim (PP-SC) falaram na dificuldade de ser contra a medida — Santa Catarina concentra diversas indústrias têxteis. Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição, também demonstrou que deverá ficar a favor da taxa.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tentou uma saída política: apresentou emenda que mantém a taxação sobre os importados, mas limita a 20% os impostos federais cobrados de produtos vendidos no Brasil. Por gerar uma queda na arrecadação, a medida não deverá ser aprovada.

A questão envolve também pendengas regionais. No início da semana, Lira soube que Rodrigo Cunha será o companheiro de chapa do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), o JHC.

Em tese, caberia ao presidente da Câmara fazer a indicação do candidato a vice. Lira ainda não anunciou se apoiará a chapa ou se lançará outro nome.

Lira teme que lançamento de outro candidato fortaleça um inimigo comum, o grupo liderado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Com a ida de Cunha para o cargo de vice-prefeito, sua suplente, Doutora Eudócia, iria pro Senado. Ela é mãe de JHC.

O agronegócio subiu nas tamancas ao saber da medida provisória editada ontem pelo governo que proíbe o uso de crédito de PIS/Cofins no abatimento de outros impostos federais. A medida, que deverá render quase R$ 30 bilhões, afeta diretamente os setores exportadores.

Segundo o Ministério da Fazenda, a MP foi editada para compensar a perda de arrecadação gerada pelo acordo que manteve, em 2024, a redução das contribuições previdenciária de 17 setores da economia e de 92% das prefeituras. O agro vai tentar derrubar a medida.

Em 2022, a PEC das Praias a praias não causou comoção: apenas 229 cidadãos responderam a uma consulta pública da Câmara sobre o tema (69% discordaram da medida). Ontem, 151.583 já tinham ido à página do Senado tratar do assunto: 98,6% são contra.