O sim dos que dizem não a Lula
A pesquisa consolidou a, até ontem, pelo menos, uma boa semana para Lula. A vitória da esquerda da França e, principalmente, a divulgação das investigações contra Bolsonaro no caso das joias colaboraram para criar um ambiente bem menos pesado no Planalto.
Um dos dados mais importantes da pesquisa Genial/Quaest é a diminuição da reprovação do governo Lula entre segmentos que, nos últimos anos, não escondiam a antipatia e mesmo o ódio ao PT. O presidente não conseguiu virar o jogo nesses redutos, mas o fato de diminuir o tamanho da derrota é bem significativo, revela a possibilidade de abertura de diálogo com esses setores.
Entre os evangélicos e os que ganham mais de cinco salários mínimos, a avaliação negativa do governo diminuiu seis pontos; no grupo dos que têm curso superior, 11; no caso dos homens, três.
Em todos esses grupos, a administração petista continua a ser mais condenada do que aprovada, não há no horizonte a perspectiva de que a maioria deles vá começar a fazer o "L". Mas as mudanças são significativas, até porque o presidente continuou sendo bem avaliado entre quase todos os que costumam apoiá-lo (nordestinos, mais pobres, com menores; manteve os aplausos e diminuiu as vaias.
Não é simples definir motivos para a mudança na percepção de setores mais refratários a Lula, mas dá pra ressaltar o conhecimento e aprovação de programas sociais como Desenrola, Farmácia Popular, Pé de Meia e Bolsa Família. É algo que provavelmente ajudou a diminuir o impacto negativo da inflação nos alimentos.
Desde outubro, porém, que a maioria diz que seu poder de compra diminuiu em relação ao ano anterior — comparada com a de maio, a nova pesquisa registra que esta avaliação negativa caiu seis pontos, mas, mesmo assim, é muito alta: 63% disseram ter menos capacidade de compra hoje do que há 12 meses.
A retomada, por Lula, de um discurso mais afirmativo e, mesmo, agressivo, parece ter dado certo: para desespero do conjunto de interesses chamado mercado, 90% dos entrevistados acham que o salário mínimo deve ser aumentado acima da inflação e 87% classificam os juros de muito altos. Para 84%, as carnes consumidas pelos mais pobres deveriam ser isentas de impostos.
A maioria — 64% — afirmou não ter ficado sabendo das críticas do presidente ao Banco Central. Mas a pesquisa indica outro ponto importante para o governo: 51% dos que votaram em Jair Bolsonaro concordam com as broncas presidenciais à política de juros adotada pela instituição.
Essa adesão de eleitores do ex-presidente a um dos pontos centrais do discurso de Lula revela que este acertou politicamente ao mirar um inimigo mais amplo, que vai além da figura do seu principal antagonista. Bater em Bolsonaro desperta solidariedade entre eleitores do ex-presidente, realimenta a divisão; criticar Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, é diferente.
Dá até pra imaginar uma frase do tipo "Não gosto do Lula, mas ele está certo ao brigar com esses caras." Bolsonaristas, afinal de contas, também sentem o peso dos juros — e políticos sabem como é importante ter um bom inimigo, alguém que esteja sempre pronto para apanhar.
A pesquisa consolidou a, até ontem, pelo menos, boa semana para Lula. A vitória da esquerda da França e, principalmente, a divulgação das investigações contra Bolsonaro no caso das joias colaboraram para criar um ambiente bem menos pesado no Planalto.
A comprovação de que o ex-presidente sabia da venda de presentes entregues ao Estado brasileiro e que, segundo depoimentos de então aliados, recebeu dinheiro vivo pelas transações têm poder de ferir de maneira grave aquele que dizia não compactuar com a corrupção. As sucessivas mudanças de versões para a trapalhada montada para passar o material nos cobres reforçam o desgaste de Bolsonaro e devem ao menos diminuir o ânimo de parte de seus seguidores — não é pouco, principalmente num ano eleitoral.