Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | EUA proibiram voos de ATR em situação de gelo

Os destroços do avião no quintal de uma casa | Foto: Bruno Santos/Folhapress

A FAA, Agência Federal de Aviação dos Estados Unidos, proibiu, em 1994, a utilização de aviões ATR das séries 42 e 72 quando houvesse constatação ou previsão de ocorrência de formação de gelo na rota.

O acúmulo de gelo nas asas foi apontado como a causa de um acidente naquele mesmo ano, em Roselawn, em Indiana, que matou 68 pessoas. Especialistas em aviação suspeitam que o mesmo problema causou a queda de um ATR-72-500, sexta, em Vinhedo (SP).

A FAA também determinou que operadores de tráfego aéreo dessem prioridade a pilotos desses aviões que solicitassem mudança de rota para evitar áreas de gelo. Na sexta, pilotos relataram essas formações na área em que ocorreu a queda do ATR da Voepass.

 

Incidentes 1

Desde então, houve pelo menos três incidentes com ATRs causados pelo mesmo problema. Em 2016, o piloto de um ATR-72-500 chegou a perder o controle do aparelho na Inglaterra. A investigação concluiu que não submetera o avião a um tratamento prévio antigelo.

Incidentes 2

No mesmo ano, houve pânico a bordo de um avião da Jet Time na Noruega. Em 2017, o incidente, também relacionado ao gelo, foi em voo da Swiftair, na Espanha — um passageiro precisou de atendimento médico. Os investigadores apontaram ineficiência da tripulação.

Especialista: asa do ATR favorece acúmulo de gelo

ATR-72-500, semelhante ao que caiu em Vinhedo (SP) | Foto: Divulgação/Passaredo

Um comandante, especialista em segurança aérea, disse ao Correio Bastidores que as asas dos ATRs têm uma configuração que facilita a formação de gelo sobre elas. Essas partes não são protegidas por um sistema tubos infláveis de borracha que, acionado pelo piloto, destrói o gelo na área frontal das asas.

Essa característica, já relatada em investigações de problemas com ATRs no exterior, é capaz de influir na atuação dos "ailerons", espécie de abas que, geralmente presas nas pontas das asas, permitem que aviões façam movimentos como curvas. No caso dos ATRs, o gelo é capaz de impedir a movimentação dessas abas.

Reversão

No caso do acidente ocorrido nos Estados Unidos, houve a conclusão de que a perda de controle do avião foi devido a uma "reversão repentina e inesperada" na articulação do aileron. Isto, diz o relatório, devido à formação de gelo que afetou a dobradiça da peça.

Rota alterada 1

A rota do PS-VPB mostra um desvio depois de o avião cruzar a Rodovia dos Bandeirantes. O traçado, disponível no site Fligthradar24, mostra que, diferentemente de aeronaves que fizeram o percurso em dias anteriores, o ATR não seguiu reto em direção a Morungaba.

Rota alterada 2

O avião fez um movimento curvo para a direita; depois, de maneira abrupta, virou à esquerda. Adiante, retomou a trajetória à direita, e começou a queda, que terminaria num condomínio de Vinhedo. Pela rota, o ATR deveria ter sobrevoado trecho entre esta cidade e Valinhos.

Investigação

O especialista ouvido pela coluna disse não ser possível, pelo traçado da rota percorrida, concluir se o piloto fez a mudança para desviar da região onde havia formação de gelo ou se ele já havia perdido em parte o controle do avião. Isso será definido pela investigação.