Presidente do PL, Valdemar Costa Neto diz que acabou o dinheiro do seu partido. O aliado de Jair Bolsonaro declarou que o primeiro turno das eleições já consumiu R$ 950 milhões, dos quais R$ 886 milhões entregues pelo generoso fundo eleitoral.
Ele paga o preço de, pela primeira vez na vida, ter dado um viés ideológico a um de seus partidos. De olho nos votos de Bolsonaro, jogou seu PL para a pista da direita: quando o ex-capitão finge que não vê, ele corta pela esquerda, negocia cargos com o governo federal, perdoa quem vota com o Planalto. Mas seu compromisso é com o bolsonarismo.
A adesão à extrema direita rendeu votos, fez com que o PL conquistasse a maior bancada na Câmara em 2022, o que se reflete em tempo de TV em campanhas e, principalmente, em muito dinheiro dos fundos partidário e eleitoral.
Mas isso também causou problemas para quem estava acostumado a viver à sombra de governos — negociou a entrada de José Alencar na chapa liderada por Lula em 2002, foi da base de Dilma Rousseff (PT), conseguiu que seu partido mantivesse poder no governo Michel Temer, estendeu tapete vermelho para Bolsonaro.
Ao justificar a falta de grana, Costa Neto cita que Bolsonaro não pede doações a empresários e faz uma espécie de confissão, algo que diz muito sobre a política brasileira: "Não temos nada no governo". Afirma, de maneira explícita, que manter melhores relações com o Planalto seria um bom caminho para irrigar os cofres partidários. Não dá para, nesse caso, negar sua sinceridade.
Por mais complicado que pareça, o financiamento público de campanhas eleitorais é melhor — e sai mais barato — que o modelo antigo, de doações por parte de empresas. Com todos os seus muitos defeitos e distorções, a Lava Jato teve, ao menos, o mérito de provar o que todo mundo sabia: as tais doações eram devidamente compensadas quando os candidatos por elas beneficiados chegavam ao poder. E isso não começou com o governo petista.
O toma lá no presente e devolve cá no futuro era tão evidente, que grandes empreiteiras doavam para os principais candidatos, não estavam nem um pouco interessadas em princípios ideológicos, queriam era garantir a simpatia dos futuros governantes (em 2014, a Andrade Gutierrez doou R$ 21 milhões para Dilma Rousseff (PT) e R$ 19 milhões para Aécio Neves (PSDB).
O problema é que os políticos, responsáveis pela elaboração das leis, lambuzaram-se na hora de definir o valor a ser repassado pelos cofres públicos para as campanhas. Neste ano, o fundo eleitoral soma quase R$ 5 bilhões. Mesmo tendo a maior fatia do bolo (a segunda é do PT), o PL está na penúria, segundo Costa Neto. Em 2023, as agremiações dividiram R$ 1,185 bilhão do fundo partidiário. Ser dono de partido virou um grande negócio.
O modelo de financiamento também esbarra em características do processo político brasileiro, em que, com exceções à esquerda e à direita, candidatos e partidos não têm o menor compromisso ideológico, votam de acordo com o vento e com as verbas.
O sistema de eleição proporcional para a maioria dos cargos legislativos (com exceção no caso do Senado) contribui para que cada parlamentar seja seu próprio partido, o que aumenta o caos. O processo fortaleceu as máquinas partidárias, que escolhem quem vai receber mais grana para sua campanha.
Vai ser interessante acompanhar o efeito do resultado das eleições municipais no PL. Um abalo mais evidente no bolsonarismo tem potencial para fazer com que Costa Neto ao menos repense o custo/benefício de sua adesão quase absoluta ao ex-presidente. O eventual enfraquecimento de Bolsonaro fará com que o dirigente avalie suas perdas e seus ganhos.