Ao reiterar sua candidatura à Presidência em 2026, Jair Bolsonaro (PL) — declarado inelegível pela Justiça — mostrou sua preocupação com o aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos favoritos da direita para concorrer ao Planalto.

O ex-presidente ainda conseguiu arrancar uma declaração burocrática de apoio do governador de São Paulo à sua candidatura presidencial.

A falta de entusiasmo de Bolsonaro no almoço em torno da reeleição do prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), evidenciou seu dilema: quer derrotar Guilherme Boulos (Psol), candidato de Lula, e pegar carona na vitória da chapa apoiada de seu partido. Mas ele sabe que Tarcísio será o grande beneficiado por este eventual resultado.

Pra piorar, Bolsonaro, que tende a desconfiar até de aliados próximos, não esconde sua irritação com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, secretário de Governo de Tarcísio. O fato de o PSD ter três ministros no governo federal irrita ainda mais o ex-presidente.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro sabe que seria complicado abrir outra frente de briga. Trava hoje uma queda de braço com o PL raiz, representado pelo presidente do partido, Valdermar Costa Neto, e por políticos sem visão ideológica e que gostam de qualquer governo.

Eventuais vitórias da esquerda neste segundo turno podem mudar o quadro, mas o resultado da primeira rodada eleitoral foi tão favorável à direita e à centro-direita que já há quem preveja uma polarização ancorada no conservadorismo.

Por essa hipótese, o PDS, e não mais o PT, seria o grande adversário do PL em 2026 — esta possibilidade já vem sendo conversada no próprio partido do ex-presidente, o que contribui para aumentar sua apreensão.

Hoje, Kassab tem duas alternativas: virar vice de Tarcísio em 2026 ou emplacar alguém do seu partido na chapa a ser liderada por Lula ou outro petista.

A discreta alteração nas preferências entre os candidatos à prefeitura de São Paulo detectada pela Quaest foi comemorada pela campanha de Boulos. Ainda que dentro da margem de erro, a diferença ter caído de 12 para nove pontos indica que há uma movimentação.

A diferença ser agora menor que dez pontos e o fato de haver 27% de indecisos na pesquisa espontânea (2% na estimulada) animaram Boulos. A ascensão entre mais jovens, mulheres e eleitores com curso superior também representou um alento para o psolista.

Como o tempo é curto, Boulos partiu de vez pro tudo ou nada e aceitou participar, hoje, de uma sabatina promovida por Pablo Marçal (Nunes recusou o convite). Dois dias antes do primeiro turno, o coach divulgou documento falso sobre uso de drogas pelo psolista.

Apesar dos seus acenos para eleitores de Marçal, Boulos perdeu intenções de votos neste grupo (13% para 7%); Nunes cresceu (74% a 79%). O cara a cara com o ex-adversário é sua chance de mostrar ousadia e reforçar que o emedebista foge de confrontos.