Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Militares: o maior temor de Jair Bolsonaro

Bolsonaro com o então subordinado Freire Gomes | Foto: 1º Sgt Sionir/Exército Brasileiro

Depoimentos de ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica que confirmam a participação de Jair Bolsonaro nas articulações golpistas são os que mais preocupam o ex-presidente e aliados.

A manutenção do acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid indica um outro complicador — a possibilidade de ele ter confirmado os planos de assassinatos de autoridades.

O general Freire Gomes e o brigadeiro Carlos Baptista Junior disseram à Polícia Federal que Bolsonaro lhes apresentou uma minuta de um documento que permitiria o rompimento institucional.

As declarações complicam a situação do ex-presidente: não foram prestadas por adversários, mas por militares que ele próprio escolhera.

 

Bateu na trave

Baptista Junior chegou a afirmar que o então comandante do Exército ameaçou prender Bolsonaro caso este insistisse em impedir a posse de Lula, na época, presidente eleito. Para o brigadeiro, a eventual adesão de Gomes teria efetivado o golpe.

'Narrativas'

Ainda ontem, o líder da Oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou que o o indiciamento de Bolsonaro e de outras 37 pessoas foi baseado em "narrativas". Para ele, a medida é consequência de um "processo de incessante perseguição política".

Para deputado, eleição de Trump motivou PF

O deputado diz que as negociações estão avançadas | Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Também do PL, o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ) vai na mesma linha de Marinho. Para ele, o múltiplo indiciamento é uma perseguição política motivada, diz, pela nova eleição de Donald Trump.

Segundo Sóstenes, o resultado do pleito norte-americano americano gerou o temor de um novo fortalecimento da direita no Brasil. Daí a busca de uma narrativa — ele também usa esta palavra — para incriminar o ex-presidente.

O deputado questiona as evidências de planejamento de assassinatos. "Os petistas desconfiavam das provas contra Lula. Eu desconfio das que a Polícia Federal apresenta agora", resume.

Renúncia

A apuração, pela Polícia Federal, de que o ministro Alexandre de Moraes seria uma das vítimas de assassinatos planejados por golpistas fez crescer a possibilidade de ele renunciar à relatoria do inquérito que apura o caso no Supremo Tribunal Federal.

Sucessão

Ao mandar prender suspeitos, Moraes se citou 44 vezes. O regimento da corte prevê um novo sorteio para a escolha de um novo relator caso este se declare impedido. Mas admite que, em casos excepcionais, a escolha caberá ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso.

Precedentes

Alvo preferencial dos bolsonaristas, Moraes já se declarou impedido de relatar outros dois casos em que é citado nas investigações: um trata de uma ameaça de morte feita a ele; o outro, das hostilidades de que foi vítima, ano passado, no aeroporto de Roma.

Guerra é guerra

O indiciamento de 24 militares faz lembrar uma provocação de Darcy Ribeiro (1922-1997), perseguido pela ditadura. Ele dizia que, se virasse imperador do Brasil, declararia guerra à Bolívia. Assim, os militares teriam o que fazer e iriam parar de se meter em política.