Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | 'Esquerda não entendeu inclusão digital dos pobres'

Guilherme Boulos (Psol) perdeu a eleição em São Paulo | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Pesquisadores e especializados em comunicação política, Fernanda Sirkis e Marcus Nogueira dizem que a esquerda tem dificuldades de se comunicar porque não percebeu a inclusão digital dos mais pobres.

"Muito do erro vem daí, a esquerda ficou com a biruta desorientada", diz Fernanda, mestre em comunicação política pela Universidade do Porto.

Isso, segundo ela, faz com que lideranças desse campo ideológico procurem simplificar o problema, apontando supostos responsáveis por seu discurso não chegar a determinadas camadas da população.

É o caso, exemplifica, de atribuir parte das dificuldades ao discurso identitário, de defesa de grupos como de negros e de pessoas LGBTQIA .

 

Reação

Para Fernanda, a esquerda fica o tempo todo na reação, busca sempre uma resposta imediata. Com isso, destaca, não são reconhecidos os méritos do outro lado, da direita. Há até dificuldade de articular defesas de pautas como a da descriminalização do aborto.

Limites

Em sua avaliação, esse é o tema mais delicado. Ressalta que o argumento repetido pela esquerda — o do "meu corpo me pertence — não é capaz de dar conta de todo problema. Da mesma forma que a ideia conservadora de que nada é possível fazer depois da concepção.

Sociólogo frisa que discurso da direita não é só de ódio

Pablo Marçal propagou a lógica do empreendedor | Foto: Reprodução/Instagram

Sociólogo, Nogueira vai na mesma linha (ele e Fernanda são casados e já prestaram serviços ao PT). Ressalta que não se pode reduzir o sucesso da extrema direita nas redes sociais ao discurso do ódio — algo que existe, mas que não dá conta de toda a situação.

A dificuldade de articular uma própria abordagem faz com que, afirma, a esquerda tenda a ficar imóvel diante do ecossistema do adversário. "O algoritmo projeta a emoção", diz.

Ele ressalta que as redes sociais também estimulam a solidariedade e são usadas como fonte de renda — destaca que cerca de 26 milhões de brasileiros ganham a vida pelo Instagram.

Dificuldade

Fernanda complementa: fala da dificuldade de setores de esquerda de insistirem em temas como a busca de carteira assinada quando muita gente passou a usar a internet para vender seus próprios serviços e muitos empresários sofrem para pagar impostos.

Silêncio

"A esquerda se especializou em gestar silêncio" — resume. Para ela, o principal é buscar entender o processo de transformação que cria personagens como Pablo Marçal, que por muito pouco não chegou ao segundo turno na eleição para a prefeitura de São Paulo.

Trump

A pesquisadora afirma que a direita faz uma espécie de trabalho de base ao colocar nas redes sociais "o que as pessoas falam na esquina". Frisa que, nos Estados Unidos, Barron, filho mais novo de Donald Trump, rejuvenesceu a imagem do pai ao colocá-lo em podcasts.

O esquilo

Nogueira cita outro exemplo dos EUA: a apreensão e o sacrifício, por autoridades de Nova York, de um esquilo-celebridade na internet, o Peanut, foi explorada pelos republicanos como uma intervenção cruel e indevida do Estado. Isso gerou uma onda final de simpatia a Trump.