Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Dino queima casa de Noel e manda renas pra brasa

Ministro do STF suspendeu emendas e acionou PF | Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, de, às vésperas do Natal, suspender o pagamento de emendas não chegou a surpreender, mas ao mandar investigar procedimentos adotados pela Câmara, ele botou fogo na casinha de Papai Noel.

É como se até as renas que puxam o trenó do Bom Velhinho tivessem ido para a churrasqueira: ele inviabilizou a distribuição de R$ 4,2 bilhões em presentes e acabou com as festas de fim de ano de muita gente.

Muitos deputados temiam que Dino não aceitaria o drible criado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com a anuência do governo e de 17 líderes de bancadas. Mas ninguém esperava que o caso fosse parar na Polícia Federal.

 

Corrupção

O que assusta muitos parlamentares é o fato de Dino ter não apenas ressaltado o valor excessivo de emendas e a falta de transparência no processo: ele ligou os pontos e explicitou evidências de que emendas servem para alimentar a indústria da corrupção.

O primo

Em sua decisão, falou em obras malfeitas, em desvios de verbas detectados por tribunais de contas, em malas de dinheiro apreendidas ou jogadas pelas janelas — esta, uma referência explícita a um vereador, primo do deputado Elmar Nascimento (União-BA), amigo de Lira.

Decisão fortalece adversário de Lira na Câmara

Citado por Dino, Glauber tenta manter o mandato | Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

Ao determinar que sejam ouvidos deputados que apontaram falhas na liberação de emendas parlamentares, Dino também reforçou que Lira é alvo da investigação.

Ao incluir na lista o deputado Glauber Braga (Psol-RJ), o ministro do STF deu destaque a um parlamentar ameaçado de perder o mandato em processo estimulado pelo presidente da Câmara.

Ao tomar a medida depois do início do recesso do Congresso, Dino criou um problema adicional para Lira, que deixará de ser presidente da Casa no dia em que os trabalhos forem retomados, em fevereiro. Dificultou também a ida do deputado para um ministério.

Tabelinha

Ouvido pelo Correio Bastidores, o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), ressaltou discursos que fizera em 13 de novembro e 9 de dezembro. Para ele, Dino faz uma espécie de tabelinha com Lula. Segura o pagamento de emendas para diminuir o déficit do governo.

Amigo de fé

Para ele, a verdadeira intenção do ministro do STF é impedir uma nova sangria de recursos em 2024, o que favoreceria o caixa do Planalto. Na tribuna do Senado, disse que Lula quebrou o Brasil e foi se socorrer com o amigo Dino, seu ex-ministro da Justiça.

Ironia

Futuro líder do PL na Câmara (como a coluna publicou em 12 de novembro), Sóstenes Cavalcante ironizou a decisão de Dino. Disse que a "turma do Centrão" é que deveria ser ouvida, já que aprovou o pacote fiscal do governo "acreditando em emenda pré-datada".

Direita fora

Sóstenes afirmou que a decisão do STF não afeta a direita: segundo ele, o grupo não tem o que classificou de "emendas extras", que fazem parte do pacote de R$ 4,2 bi. O líder do PL, Altineu Côrtes (RJ), porém, é um dos que assinaram o pedido de liberação dos tais recursos.