Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Os passos de bolero de Hugo Motta

Hugo Motta e a anistia: um pra lá, um pra cá | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) trata de dançar uma espécie de bolero minimalista com o projeto que anistia suspeitos, acusados e condenados por tentativa de golpe de Estado — cuidadoso, dá um passo pra lá e outro pra cá (dois passos seriam arriscados demais).

Semana passada, entre conversas com políticos favoráveis e contrários ao projeto, ele sugeriu ao PL, partido de Jair Bolsonaro, a troca do relator da proposta.

Alegou que o atual, Rodrigo Valadares (União-SE), é favorável à anistia, mas teve problemas com o presidente anterior da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o que poderia dificultar votos do Centrão. Avisado, o PL apresentou três nomes, entre eles, o de Alfredo Gaspar (União-AL).

 

Goleiro

O PL torce por Gaspar porque ele foi do Ministério Público, chegou a ser procurador-geral de Justiça de Alagoas. Na visão dos bolsonaristas, ter um promotor defendendo anistia seria um bom trunfo. Afinal, na maior parte das vezes, o MP joga no ataque, não na defesa.

Lupi na mira

Enquanto Motta não volta — integra a comitiva do presidente Lula na viagem à Ásia —, o PL tenta obter mais votos. Quer agora dar um jeito de botar Bolsonaro para conversar com Carlos Lupi, ministro da Previdência, e manda-chuva do PDT. O partido tem 18 deputados.

Conversas com Sóstenes e com Marcos Pereira

Presidente do Republicanos foi atacado por Malafaia | Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

O bolero de Motta incluiu conversas com o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), e com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), que virou alvo do pastor bolsonarista Silas Malafaia.

A Sóstenes, sugeriu criar uma nova comissão especial para analisar a anistia, uma repetição do que fizera em outubro. O líder do PL não gostou da ideia, disse que protelar o tema seria ruim para o partido e para ele, Motta.

Ficou de se reunir com líderes no dia 1º de abril. Se sentir firmeza, apresentará, dois dias depois, o requerimento em que pede a inclusão na pauta da urgência da votação do projeto.

Bola pro lado

Também na semana passada, Motta almoçou com Pereira e com o líder do Republicanos, Giberto Abramo (MG). A coluna apurou que o presidente da Câmara disse que não quer pautar a anistia. Nem ele, nem o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Deixa pra lá

A posição de Motta reflete uma posição majoritária não apenas do Republicanos como também do MDB e PSD. A maioria dos deputados desses partidos votaria a favor da anistia, mas há também entre eles a convicção é de que o melhor é deixar o assunto, explosivo, de lado.

Jogo de cintura

Outro que tenta dançar esse bolero é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foi radicalmente bolsonarista ao defender a anistia no palanque carioca; dias depois, elogiou a urna eletrônica a Justiça Eleitoral e virou alvo da base do ex-presidente.

Futuro

Para um aliado, Tarcísio tenta uma jogada arriscada. Cultiva alguma imagem de moderação por saber que, daqui a pouco, Bolsonaro deverá ser condenado e preso. Poderá alegar que foi fiel até o fim ao ex-presidente e, assim, tentar garantir os votos bolsonaristas.