Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Com Bolsonaro réu, direita busca alternativas

Ex-presidente falou depois da derrota por 5 a 0 no STF | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Nenhum político de direita vai falar nisso abertamente, mas a aceitação unânime da denúncia contra Jair Bolsonaro abriu de vez a porteira para a escolha de outro candidato à Presidência da República.

Por enquanto, todos manterão o discurso de que o ex-presidente é vítima de uma perseguição política, de uma injustiça, ninguém quer saber de brigar com ele e, principalmente, com seus milhões de eleitores.

Há uma avaliação de que o ato bolsonarista marcado para o próximo dia 6, em São Paulo, tende a ser muito maior do que o realizado no Rio, mas não há ilusões sobre o efeito prático da manifestação. Presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) vai evitar ao máximo pautar o prójeto de anistia.

 

Confusão

Na Câmara, há um quase consenso de que o projeto seria aprovado caso vá a plenário, mas apenas o PL luta para que isso ocorra. Existe a certeza de que o tema vai servir, principalmente, para gerar muita confusão na sociedade e problemas na relação com o governo.

Na comitiva

Manter boas relações com governos está no DNA do Centrão. A presença de importantes representantes do grupo na viagem de Lula mostra que não há qualquer disposição para rompimento agora. "O que há é pressão do PL", diz a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Então presidente disse que posse de Lula era 'prevista'

Bolsonaro voltou a negar influência no 08/01 | Foto: Joedson Alves/Agencia Brasil

Ontem, Bolsonaro destacou trechos de sua live de 30 de dezembro de 2022, pouco antes de embarcar para os Estados Unidos. Frisou que, na fala desestimulou qualquer reação violenta à posse de Lula.

Mas a transcrição do que disse mostra que ele não fechou a porta para os mais revoltados. Disse que a posse estava "prevista" para 1º de janeiro, dali a dois dias.

Afirmou também que, na época, tentou agir: "Eu busquei dentro das quatro linhas, dentro das leis, respeitando a Constituição, uma saída para isso aí, se tinha uma alternativa para isso, se a gente podia questionar alguma coisa ou não questionar alguma coisa (...)".

Reação

Em outro momento da live, o ainda presidente frisou a necessidade de se respeitar as leis e a Constituição, mas tratou de fazer uma ressalva: "Sim, temos que respeitar, mas podemos reagir, podemos não, é direito nosso, mais que direito, é o dever nosso reagir".

Sem apoio

Ele também deu a entender que não teve respaldo para tomar uma atitude mais decisiva, ainda que dentro da Constituição, sobre o processo eleitoral: "Ninguém quer uma aventura. Agora muitas vezes dentro até das quatro linhas você tem que ter apoio", destacou.

Estilo

Ao retomar o estilo cercadinho, Bolsonaro dividiu seus aliados. Para alguns, ele fez certo ao se defender jogando no ataque, ao ressaltar questões de viés político que seriam determinantes na aceitação da denúncia contra ele. "Ele só sabe jogar desse jeito", justificou um deputado.

Contradição

Um outro, porém, avalia que ele errou ao atropelar a defesa técnica, que insiste, por exemplo, numa falta de acesso a provas. O estilo rompedor também não combinaria com a campanha por anistia que ressalta uma desumanidade de penas mais altas aplicadas pelo STF.