Por: Fernando Molica

Índio quer exílio e anistia

Léo Índio participou da manifestação de 8 de janeiro de 2023. | Foto: Reprodução/Relatório CPMI do Senado

Segundo integrante da família Bolsonaro a se mandar do Brasil neste mês, Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, demonstra uma coragem bem menor do que a manifestada ao longo da conspiração golpista e na intentona de 8 de Janeiro.

A julgar por suas próprias declarações a uma rádio, ele deu no pé poucos dias depois de o Supremo Tribunal Federal aceitar a denúncia em que ele é acusado de participação na trama contra a democracia.

Ao votar pela aceitação da denúncia contra o sobrinho do ex-presidente, o ministro Alexandre de Moraes, registrou que numa conversa por Whatsapp no dia 25 de novembro de 2022, Índio recebeu informação sobre possível localização de membros do STF e afirmou que "uma bomba cairia bem" ou "um raio os céus".

Filho de irmã de Rogéria Nantes, ex-mulher de Bolsonaro, mãe de Flávio, Eduardo e Carlos, Índio é bom de bravatas  Quatro dias antes do 8 de Janeiro, perguntou em mensagem se iram "invadir o congresso" e questinou o sentido de não se "fazer nada".

Durante o quebra-quebra, Índio publicou fotos em redes sociais mostrando que estava na Praça dos Três Poderes. À Polícia Federal, disse que subiu subir a rampa do Congresso Nacional, mas negou ter participado do quebra-quebra.

Duas semanas depois do segundo turno da eleição de 2022, Índio fez um desafio público no Instragram: "Quer intimidar quem com esse papo furado, vire homem. As FFAA já falaram que os atos não são antidemocráticos. Piadista? O GAME OVER está próximo. Aproveite seus últimos momentos de fama." Pelo jeito, agora Índio teme que o jogo tenha acabado para ele. À rádio, reclamou da demora da aprovação da anistia.

O caso dele ajuda a entender como tanta gente embarcou na tentativa de golpe e na consequente implantação de uma ditadura. Cidadãos adultos que agiram como crianças mimadas, incapazes de admitir alguma derrota. Diante de uma contrariedade, partiram para o questionamento de todo o processo eleitoral, algo estimulado por Jair Bolsonaro.

Desacostumados com punições, agora reclamam do castigo. Fazem como aqueles meninos e meninas que se jogam no chão do shopping ou do supermercado para que o papai e a mamãe lhes comprem um determinado brinquedo.

Quem pede golpe, fala em bombas contra ministros do STF e estimula invasões não tem direito uma anistia. Crianças birrentas e periogosas, precisam ser punidas pelo que fizeram e pelo que tentaram fazer. Têm que aprender o que não lhes foi ensinado.

Os defensores da anistia para golpistas erram ao falar que o instrumento geraria uma pacificação nacional. Trata-se do oposto, a medida acirraria conflitos, indicaria impunidade.

Anistia, palavra que remete a esquecimento gerado por uma superação, é um recurso geralmente utilizado na transição de regimes autoritários para democráticos, foi o que aconteceu no Brasil em 1979. Houve, naquele momento, o reconhecimento implícito de que a ditadura implantada em 1964 foi o principal motivo dos atos que acabariam punidos pelos militares.

Não se pode anistiar quem conspirou contra a democracia ainda durante o mandato de Bolsonaro, quando houve a percepção de derrota eleitoral. Ao falar em ditadura, o ex-presidente comete mais um contrassenso, ao, na prática, classificar de autoritário o governo que comandava.

A exemplo de Alberto Fujimori e de Hugo Chávez — presidentes que elogiou na Câmara —, Bolsonaro tentou primeiro um autogolpe, e perdeu. Agora, ele e outros envolvidos na trama precisam ser punidos.