Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

'Depois de horas'... o novo estrelato

Estrelado por Griffin Dunne, a comédia de erros 'Depois de Horas' integra a mostra Cinéma de la Plage na Croisette | Foto: Divulgação

A julgar pela corrida em torno da comédia "Ex-Husbands" no Marché du Film de Cannes, há uma expectativa de que seu astro, Griffin Dunne, visite a Croisette para prestigiar a sessão de seu maior sucesso, "Depois de Horas" ("After Hours", 1985), numa projeção na praia.

Vítima da lua cheia no terror "Um Lobisomem Americano Em Londres" (1981) e alvo das estripulias pop de Madonna em "Quem É Esta Garota" (1987), o nova-iorquino de 68 anos começou a fazer cinema em 1975, como ator, dividindo a agenda com trabalhos como produtor e cineasta.

Até indicação ao Oscar de Melhor Curta-Metragem ele tem no currículo, uma vez que concorreu a uma estatueta em 1996, com o filme "Descobertas". A pluralidade de sua obra é inegável. Mas é pelo sucesso de público e crítico de Martin Scorsese que ele é lembrado.

Comédia de erros, "Depois de Horas" ("After Hours") rendeu ao cineasta o prêmio de Melhor Direção em Cannes. No Brasil, o filme passou na "Tela Quente", com Selton Mello dublando Dunne. "Foi o filme que abriu as portas do mundo para mim", disse o ator ao Correio da Manhã em San Sebastián, na Espanha.

"Na época em que fez a sua primeira exibição mundial, em Cannes, em 1985, tava rolando o boato de uma ameaça de bombas e os artistas americanos todos cancelaram sua ida. Stallone e Schwarzenneger não viajavam, mas eu, que produzi o filme, sim, o que fez jornais como o "Le Monde" me chamarem de 'O Ator Mais Corajoso da América'. Por outro lado, na minha relação com a comédia, o filme acabou me associando a um arquétipo do atrapalhado em situação de risco".

De acordo com a boataria positiva que volta a cercar seu nome em Cannes, Dunne pode ter emplacado uma nova performance icônica a julgar pela badalação acalorada em torno de seu desempenho em "Ex-Husbands".

No filme de Noah Pritzker, ele vive o Dr. Peter, um dentista de NY em processo de separação da mulher com quem viveu por 35 anos - papel confiado a Rosanna Arquette, sua parceira no longa de Scorsese. Em busca de sossego, ele embarca numa viagem para um resort no México sem saber que seus filhos vão estar lá.

De certa forma, a saga do dentista Peter retratada em "Ex-Husbands" fala sobre a arte de envelhecer. Dunne vem sido bem-sucedido nela. "O maior barato de fazer carreira como ator é que, numa época, você vai sempre interpretar filhos e, em outra, passa a viver pais ou avôs. Antes, em tramas de tribunal, os estúdios me chamavam para viver advogados e, hoje em dia, já me escalam para viver juízes. O especial no processo de 'Ex-Husbands' é que é cada vez mais difícil ter papéis bons para atores da minha idade", disse o ator, que passou ao posto de produtor e de diretor ainda jovem.

"Notei que produzir ia facilitar as minhas chances de ser escalado, pois, se eu produzo, posso arrumar um papel para mim. Mas quando estou atuando, eu meio que tiro férias das responsabilidades que tenho quando estou num projeto como cineasta ou trabalhando na produção. Tendo um diretor como Noah, eu só me deixo guiar pelo roteiro e busco espaços para expressar o que há na essência do meu personagem. Não fico pensando se o filme vai estar num festival como o de Cannes ou se será aplaudido", avisa.

Seu maior desafio em "Ex-Husbands" é encarar a patrulha que hoje cerceia o riso. "Nunca foi fácil ser engraçado e eu fico nervoso só em ter que formular sobre fazer comédia. Mas eu tenho visto que os shows dos comediantes andam cheios. O público está lá. Acredito que sempre vai haver lugar na arte para a irreverência, ela só tem que se acomodar às transformações", diz Dunne. "As tensões do nosso tempo hão de se acomodar'.

O Festival de Cannes segue até o dia 25. A principal atração desta sexta é "Oh Canadá", de Paul schrader, com Richard Gere no papel de um desertor da Guerra do Vietnã que fugiu dos EUA para não servir o exército.