Por: Aristóteles Drummond

Lembrando João Pinheiro Neto

João Pinheiro Neto comandou a Supra (Superintendência da Reforma Agrária) no governo João Goulart | Foto: Divulgação

Nesta temporada dos 60 anos de 64 vamos ter um documentário e um livro abordando um relevante personagem da época, que foi João Pinheiro Neto.

Espero que ele não apareça como um herói revolucionário, o que não foi, assim como foi longe de ser o subversivo radical apontado pelos desinformados. Sua presença no jornalismo por décadas e militância partidária no velho PTB de Ivete Vargas, comprovam o homem moderado, cordial e sem ressentimentos. Independente e de coragem, ao fazer a opção pela legenda sabia que ia incorrer na fúria dos que fundaram o PDT. Nas décadas de jornalismo a escritor conquistou e formou seu público pela fidalguia que não o impedia de assumir posições e exercer um espírito crítico saudável.

Como está no nome, era neto do estadista mineiro no início da República e filho de uma referência na sua geração, líder na Federação das Indústrias. Nasceu com a política no sangue e na alma. No Rio onde ficou radicado e constituiu família foi presença na vida associativa em dois clubes tradicionais como o Jockey Clube Brasileiro e o Country Clube do Rio de Janeiro.

Assessor de JK em Minas e no Catete, desenvolveu as qualidades do homem público mineiro da tolerância e da conciliação. Chegou ao poder muito jovem, no auge do idealismo reformista dos dotados de preocupações sociais. Foi vítima do clima que infelicitou o próprio presidente Goulart e provocou o movimento cívico militar. A importância de trabalhos como este para a história é que o tempo permite uma avaliação realista e sem a emoção do momento. João Pinheiro Neto não foi apenas o leal amigo de Jango. Tinham em comum justamente a cordialidade e a moderação que faltou em muitos companheiros de governo.

Ao olhar o período, polarizado como o que temos, chama atenção a perda da qualidade dos homens públicos no Brasil. João Pinheiro não só vinha de ilustre estirpe como integrava escritório de advocacia com Nelson e Paulo Motta, Auro de Moura Andrade. Pertencia a um governo contestado pelos conservadores, mas que tinha quadros como Santiago Dantas, Evandro Lins, Carvalho Pinto, Moreira Salles, Hélio de Almeida, entre outros.

Vale conhecer o entusiasmo e o idealismo de um jovem, que as circunstâncias daquele momento retirarou da vida pública quem tinha muito a contribuir, dentro do modelo das alterosas. Deixou obra e o legado do homem cordial, e agora terá sua própria história contada

No legado o filho Henrique que tornou possível o filme, dirigido pela doce neta de Goulart.

 

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