Além de Gleisi Hoffmann, nesta segunda-feira (10) Alexandre Padilha foi empossado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como novo ministro da Saúde. Ele deixou a Secretaria de Relações Institucionais, agora comandada por Hoffmann, para assumir no lugar de Nísia Trindade – que estava presente na cerimônia que ocorreu no Palácio do Planalto. Esta é a segunda vez que Padilha assume o Ministério da Saúde, visto que ele já comandou a pasta de 2011 a 2014, no governo de Dilma Rousseff.
Em sua despedida como ministra da Saúde no governo Lula 3, Nísia Trindade fez um balanço sobre sua gestão frente ao ministério. Em seu discurso, ela agradeceu ao presidente Lula pela oportunidade de atuar frente ao Ministério. Contudo, a agora ex-ministra disse ter sido vítima de uma campanha “sistemática e misógina” enquanto estava no cargo, visando desvalorizar seu trabalho. Porém, apesar da clara insatisfação, ela disse que seu tempo no cargo tinha acabado.
“Temos que ter maturidade política e compreensão do que o país precisa de nós. No meu caso, é hora de seguir em frente, atuando em outros espaços, seguindo comprometida com a defesa do projeto de um país mais soberano”, destacou Nísia.
Filas de espera
Ao assumir como novo ministro da Saúde, Padilha criticou veementemente o negaciosismo científico e reiterou que “só se enfrentam problema de saúde pública com a ciência”. Além disso, ele pontuou que as primeiras prioridades do Ministério serão a vacinação contra a dengue e a redução das filas de espera para atendimentos especializados no Sistema Único de Saúde (SUS). “Todos os dias vou trabalhar para reduzir as filas de espera do SUS”, reforçou Padilha.
Para o Correio da Manhã, a diretora de Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados Rebeca Lucena ressaltou que o anúncio de redução de filas do SUS foi estratégico para reduzir o aumento da desaprovação do governo. “Ao se focar na fila de espera do SUS, a administração procura utilizar a pasta da Saúde para trazer de volta um público de apoio que sempre esteve com o governo, mas que se encontra atualmente descontente e em desaprovação. Dessa forma, sua atuação não só terá um impacto direto na gestão do SUS, mas também poderá gerar a visibilidade que Lula almeja para consolidar suas metas na reta final de seu mandato com foco nas eleições de 2026”, destacou Lucena.
Visibilidade
Na avaliação de Rebeca Lucena, a principal contribuição de Alexandre Padilha no Ministério da Saúde é trazer maior visibilidade para a pasta, aumentando a divulgação dos feitos da Saúde (e consequentemente do governo) mirando nas eleições presidenciais de 2026.
“Embora o presidente tenha reconhecido a importância da gestão de Nísia Trindade, sua avaliação indicava que faltava um apelo mais ‘marqueteiro’ para consolidar as conquistas da saúde pública. Padilha, por sua vez, traz maior habilidade de articulação política, bastante evidenciada em sua primeira passagem neste Ministério, quando não abandonou as diretrizes do Governo, ao mesmo tempo em que soube se aproximar do setor produtivo”, ponderou a especialista em Relações Governamentais.
Em conversa com a reportagem, o cientista político Felipe Rodrigues completou que Alexandre Padilha tem um “conhecimento técnico com articulação política”, enquanto a ex-ministra Nísia Trindade tinha um perfil mais técnico e acadêmico. “[Isso] pode facilitar tanto a implementação de programas de saúde quanto a obtenção de recursos necessários junto ao Congresso”, explicou ao Correio da Manhã.
Além disso, o advogado especialista em relações governamentais Isaac Simas ressaltou que o fato de Padilha assumir a pasta foi estratégico para trazer força ao governo. Ele relembrou que, nos bastidores, o nome do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) chegou a ser cotado para assumir a pasta – que conta com o maior orçamento dentre os demais ministérios. Com isso, a escolha do presidente Lula em empossar um aliado do governo na pasta “bota um freio na avassaladora onda política do Centrão, como se viu, por exemplo, no desempenho de seus partidos, como o PSD, nas eleições municipais”.
“Colocar esse cargo pra alguém do Centrão facilitaria o caminho para eles na próxima eleição. Colocando o Padilha, que é um sujeito próximo ao Lula, se freia isso e direciona esses recursos pra que quem esteja entregando seja o PT, e não o Centrão”, avaliou Simas.