Tributo merecido a uma das vozes mais emblemáticas da canção latino-americana, o espetáculo "Violeta Parra em dez cantos" chega ao Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, nesta quinta-feira (3), após uma bem-sucedida temporada em São Paulo. A montagem celebra a trajetória da cantora e compositora chilena Violeta Parra, uma das vozes mais importantes da América Latina, destacando sua contribuição para a cultura latina e sua luta contra as injustiças sociais.
Com texto de Luís Alberto de Abreu, direção de Luiz Antônio Rocha e atuação de Rose Germano, a peça resgata a história de Violeta, pioneira da arte latino-americana e primeira artista da região a expor individualmente no museu do Louvre. Sua canção "Gracias a la Vida", imortalizada nas vozes de Mercedes Sosa e Elis Regina, é considerada uma das mais belas canções de todos os tempos e é um dos destaques da montagem.
A dramaturgia explora a versatilidade de Violeta, que foi além da música ao se dedicar também à poesia, artes plásticas e bordado. Suas composições, interpretadas por artistas como Elis Regina, Milton Nascimento e pela argentina Mercedes Sosa, carregam um forte engajamento social. "Violeta Parra em Dez Cantos", explica o diretor, é o segundo capítulo de uma trilogia sobre mulheres latinas, iniciada com "Frida Kahlo, a Deusa Tehuana", e a terceira obra será dedicada a uma artista brasileira que Rocha prefere não revelar neste momento.
"A construção dessa trajetória na peça se baseia na ideia aristotélica do daimon, um guia que conduz ao propósito de vida. Violeta enfrentou desafios imensos para alcançar sua missão", comenta o autor Luís Alberto de Abreu.
"Violeta Parra, a 'peregrina que não cabia dentro de si', teceu o próprio destino com a sua capacidade de criar, interagir e compilar a sua cultura para dar voz aos esquecidos", lembra Rose Germano. "Assim como ela, tantas outras mulheres artistas brasileiras, como Tarsila do Amaral, Clarice Lispector e Maria Carolina de Jesus, são símbolos de extrema importância na construção de uma identidade feminina própria, pois saíram do papel de figura representada para produzir arte, romper paradigmas e escreverem sua própria história. Ao relembrarmos a vida e a grande obra de Violeta Parra, homenageamos muitas outras mulheres à frente do seu tempo", completa.
Em 2014, o diretor e a atriz Rose iniciaram um estudo sobre a importância da mulher latina. Grandes artistas contribuíram para a mudança de pensamento e de comportamento na sociedade de hegemonia masculina que até hoje silenciam vozes femininas. "Levamos ao público o contato com a cultura chilena que tanto se assemelha a nossa. O autor, Luís Alberto de Abreu, foi muito feliz em trazer uma abordagem crítica e contemporânea sobre a contribuição cultural de Violeta Parra para a América Latina tendo na figura da artista a expressão de uma arte decolonial. Quando trazemos a voz de uma mulher latina como protagonista, estamos trazendo à luz a cultura latina que, durante muitos anos, foi apagada pela imposição de uma cultura que não é genuinamente a nossa, e sim dos nossos colonizadores", conta o diretor.
A peça traça paralelos entre a história da artista chilena e a da atriz Rose Germano, paraibana de Riacho do Meio. O espetáculo também reforça a conexão entre a cultura popular latino-americana e as narrativas de resistência de diferentes povos, mostrando a luta das mulheres e a valorização das culturas originárias.
"Falei de mim, da terra seca de onde eu vim, onde as pedras nos ensinam a dureza e o valor raro do que é delicado. As pedras me apontaram o humano de todas as coisas, eu disse a ela. Violeta sorriu e passou longas tardes me contando desventuras de sua vida... Nessa viagem, nos ligamos de maneira profunda. Talvez porque ela busque tantas coisas na vida como eu, talvez por ela ser meia indígena como eu. Não sei se ela era descendente de mapuche, huiliche, diaguita, aymará, talvez de todas elas. Eu venho dos Cariri, da Paraíba", diz Rose num trecho da peça.
Acompanhada pelo violonista Luciano Camara, a atriz interpreta clássicos de Violeta Parra, como a já citada "Gracias a la Vida", "Volver a los 17", "El Gavilan" e "Arriba Quemando El Sol". A direção musical é de Aline Gonçalves, que destaca a riqueza dos instrumentos típicos explorados por Violeta, como o charango, a quena e o guitarrón chileno.
SERVIÇO
VIOLETA PARRA EM DEZ CANTOS
Teatro Glaucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, s/nº, Copacabana)
De 3 a 25/4, às quintas e sextas (20h)
Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia) via Eleven Tickets