A quiropraxia é uma técnica terapêutica que busca aliviar dores musculoesqueléticas por meio da manipulação das articulações, principalmente da coluna vertebral. Embora seja popular para o tratamento de dores nas costas, pescoço e outras áreas, a manipulação cervical pode representar riscos graves, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), quando feita de forma inadequada. O risco está relacionado à possibilidade de lesões nas artérias que irrigam o cérebro, o que pode interromper o fluxo sanguíneo e provocar um AVC.
Quando realizada na região do pescoço, a quiropraxia pode causar, em uma taxa estimada de 1,3 casos por 100 mil, a "dissecção" das artérias carótidas. Esse dano no revestimento interno dos vasos sanguíneos pode criar um ponto de origem para a formação de coágulos, que podem se deslocar até o cérebro e resultar em um AVC.
Dois casos amplamente divulgados reforçam a necessidade de cautela. Em setembro de 2024, uma mulher sofreu um AVC e ficou sete dias na UTI após uma sessão de quiropraxia, segundo reportagem de O Globo. Além disso, o caso da modelo Katie May, que faleceu após uma dissecção arterial durante uma manipulação cervical em 2016, trouxe atenção internacional ao risco associado à prática.
Estudos, como os da American Heart Association, apontam que as dissecções arteriais cervicais (rupturas nas artérias vertebrais ou carótidas) são responsáveis por até 25% dos AVCs em pessoas com menos de 45 anos. Essas lesões podem ocorrer com movimentos bruscos durante a manipulação, interrompendo o fluxo sanguíneo para o cérebro e aumentando o risco de AVC isquêmico, que pode levar a consequências graves, como morte ou paralisia.
Para o neurocirurgião Orlando Maia, esses riscos são reais e precisam ser levados a sério. Ele alerta que "Embora o AVC relacionado à manipulação cervical seja um evento raro, ele pode ser devastador. A avaliação prévia do paciente, levando em consideração o histórico de doenças vasculares ou hipertensão, é essencial antes de qualquer procedimento de quiropraxia."
O especialista também reforça que pessoas com histórico de enxaquecas, hipertensão ou doenças vasculares devem evitar manipulações no pescoço e preferir terapias alternativas que não envolvam risco de lesões arteriais. "Em casos assim, a fisioterapia ou o uso de métodos menos invasivos podem ser opções mais seguras", sugere.
Embora a quiropraxia seja uma técnica válida, é importante que o paciente se informe corretamente e tenha sempre a orientação de um profissional qualificado. O paciente deve estar atento ao histórico de saúde, especialmente em relação a doenças vasculares, e nunca realizar o procedimento sem uma avaliação detalhada. Além disso, se após a manipulação cervical houver sintomas como dor intensa no pescoço, tontura, dificuldades de visão ou fraqueza, é essencial procurar atendimento médico imediatamente.
Sintomas de um AVC
Caso os sintomas de um AVC apareçam após a manipulação cervical, é fundamental agir rapidamente. Os sinais de alerta incluem: fraqueza ou paralisia em um lado do corpo; dificuldade de falar ou entender a fala; perda de visão em um ou ambos os olhos; tontura, perda de equilíbrio ou coordenação; e dor de cabeça intensa e súbita, sem causa aparente.
Se perceber algum desses sintomas, chame imediatamente o serviço de emergência. Quanto mais rápido o atendimento médico, maiores são as chances de reduzir os danos causados pelo AVC. É crucial que o tratamento ocorra nas primeiras 4 horas após o início dos sintomas, pois nesse período o tratamento pode reduzir significativamente o risco de danos cerebrais permanentes e aumentar as chances de recuperação. Durante o transporte para o hospital, evite que a pessoa se movimente demais e mantenha a calma.
Além de buscar um quiropraxista qualificado e realizar a avaliação prévia de saúde, é importante adotar medidas gerais para reduzir o risco de AVC. Manter a pressão arterial sob controle, adotar uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas regulares e evitar o consumo excessivo de álcool são atitudes que podem prevenir o AVC. Consultar um médico regularmente, especialmente se houver histórico de hipertensão ou problemas vasculares, também é fundamental para garantir a saúde arterial e prevenir complicações.
Caso o paciente busque alívio para dores no pescoço ou coluna, existem diversas alternativas que não envolvem riscos tão altos, como a fisioterapia, terapias de relaxamento, acupuntura e o uso de medicamentos prescritos por um médico. A fisioterapia, por exemplo, pode ajudar a melhorar a mobilidade e reduzir a dor sem colocar o paciente em risco de lesões arteriais.
Prevenir complicações graves é possível, e a melhor maneira de fazer isso é buscar sempre profissionais capacitados, estar ciente dos riscos envolvidos e adotar uma abordagem cautelosa, priorizando sempre a segurança do paciente.