Por: Thamiris Azevedo

Uso de IA auxilia estudantes com deficiência visual

Ferramenta foi desenvolvida a partir das dificuldades e necessidades de Késsia | Foto: Luis Gustavo Prado/Secom-UnB

A Universidade de Brasília (UnB) apresentou a ferramenta “Exata Falada” que, com o uso de inteligência artificial, realiza autodescrição de equações e gráficos matemáticos. O desenvolvimento da IA visa auxiliar os estudantes com deficiência visual a resolverem exercícios.

O professore e coordenador do Departamento de Engenharia Elétrica, Rafael Shayani, conta ao Correio da Manhã que dentro da instituição já existem equipamentos para fazer a adaptação do material didádico com leituras em autodescrição para auxiliar os universitários, mas somente de textos.

“É mais fácil o material ler textos de filosofias, história etc. No caso, o texto passa por um scaner, que faz a leitura do material no computador. Há uma forma correta de ler numeração, e o leitor de tela não sabe fazer isso. Não identifica muitos sinais matemáticos e elabora um produto que não dá para entender”.

O problema foi identificado pela mestranda em Ciências Mecânicas Késsia Tayná Silva, com baixa visão, que levou a demanda até o Departamento de Acessiblidade da faculdade para iniciarem o projeto.

O professor explica que, durante nove meses, a inteligência artificial foi treinada para que compreendesse a gramática matemática.

“Há várias equações que são muito simples de ler. Por exemplo, se você falar x mais y igual a 2 e escrever isso, o computador vai ler e todo mundo vai entender. Mas há alguns termos que são ambíguos. Por exemplo, se o computador lê x mais y dividido por 2, quem ouvir vai ficar na dúvida se o que está dividido por 2 [e tudo ou se é apenas o y. São essas ambiguidades que a ferramente pode resolver”.

Inclusão

Por conta das dificuldades, é mais comum que os alunos com deficiência visual cursem disciplinas de humanas. Para o professor, a ferramenta é uma oportunidade para quebrar essa barreira com a modalidade de exatas e incluir todas as pessoas.

“A Késsia é a única aluna com baixa visão no curso de engenharia. Identificou-se que os alunos com deficiência visual tendem a não procurar as disciplinas de exatas pela falta de acessibilidade. Inclusive no ensino médio, não há material acessível. Se o aluno não entende, ele não vai cursar exatas no futuro. Com a tecnologia, eles podem se sentir mais acolhidos”.

“Não é suficiente apenas receber os alunos na universidade, é preciso dar condições para que as pessoas com deficiência possam concluir o curso tão bem quanto uma pessoa que enxerga a lista de exercício”, continua.

Além dos estudantes com deficiência visual, Rafael ressalta que a autodescrição pode auxiliar pessoas com dislexia, discalculia, ou até mesmo para os estudantes que pretendem ouvir os exercícios quando não podem lê-los por situações eventuais, como estar dentro de um ônibus.