Por: Ricardo Cravo Albin

O abrigo aos animais na tragédia gaúcha. Ainda bem

Mais de 14 mil bichos já foram salvos | Foto: Divulgação

De fato, em meio às péssimas noticias que nos afligiram a todos no Rio Grande do Sul, cabe-me observar e emitir eloquente voto de louvor às autoridades gaúchas que vêm administrando as facetas múltiplas da tragédia. Especialmente em relação à comovente ação empreendida junto aos animais resgatados das enchentes.

Aliás, fiquei surpreso com a repercussão positiva do que postei aqui há duas semanas tratando exatamente da defesa e cuidados especiais aos animais, assunto que sempre adentrou minha sensibilidade pessoal. Agora mesmo, pesquisando mais o tema, deparo-me com uma profusão de matérias nos veículos mais variados da imprensa brasileira.

Fontes fidedignas me informaram que mais de 14 mil animais já foram resgatados até três dias atrás. Sim, é isto mesmo que leem, mais de 14 mil bichos já foram salvos enquanto 2,5 milhões de pessoas foram diretamente atingidas.

Milhares desses animais aguardam seus tutores em abrigos espalhados por todo estado gaúcho. Enquanto muitos já foram amparados por novos donos em cidades distantes de seus habitats naturais, especialmente Rio, Brasília e São Paulo.

Fiquei especialmente comovido com atitude de velho amigo meu de Nova York – reconhecido protetor de cachorros e gatos nos Estados Unidos da America. Cujo nome ele me pediu que seja mantido em sigilo, quando lhe telefonei quase em lagrimas para agradecer sua generosa oferta de enviar seu jatinho particular a Porto Alegre para se responsabilizar pelo resgate de dezenas de pets abrigados em asilo. Entre os aviões que saíram de Porto Alegre transportando animais estava o da presidente do Palmeiras Leila Pereira ( Informa reportagem de Fernanda Alves, de O Globo). Ela teria levado cerca de cem cachorros e gatos para Sorocaba (SP). Tal fato é de umedecer os olhos...

Já meu amigo de N. York se encarregou de distribuir os mais de 50 cães que couberam em seu jatinho entre seus amigos, muitos deles ligados a produção de filmes internacionais. Seu mote também me calou fundo: “adote um pet resgatado das enchentes do sul do Brasil, provocadas pelos mal feitos que todos nós fizemos ao planeta”. Soube ontem mesmo por ele que cada um dos cães já tem novo lar. A repórter Fernanda Alves informou ainda na matéria do Globo que o surfista Pedro Scooby – também muito relevante nos resgates de animais na cidade de El Dorado do Sul - voltou para sua casa no Rio com novo habitante, o cão El Dorado, que ele próprio salvou das enchentes. O cão, ele garante, adotou-o como novo tutor e não larga seu protetor um instante sequer. Comovente gesto de gratidão, no mínimo...

A tragédia do Rio Grande e a bela evocação das almas piedosas que cuidam do resgate dos seres que não podem gritar para pedir socorro, me fazem lembrar da enchente do Rio no ano de 1966.

Morava na Rua General Glicério à época e indo para casa me deparei com Nelson Rodrigues, que puxando um cão assustado me pedia - “Me ajude, meu filho, a resgatar dois outros animais que se salvaram do prédio que ruiu há pouco” Lá fui eu acompanhando os passos apressados do grande brasileiro. E, encolhidos num cantinho da rua estavam dois belos cachorros exaustos e imundos.

Em seguida os três cães foram entregues por Nelson ao guarda da PM que ficou de conduzi-los de imediato ao abrigo das vitimas da enchente que se organizava na sede do Fluminense na Álvaro Chaves. O Nelson ainda piscou os olhos para mim e disse baixinho “Você também deve torcer pelo Flu, não?” – “Claro, claro”, retruquei em quase grito.