Por: Cláudio Magnavita*

EDITORIAL | Por que a derrota de Bolsonaro interessa a Globo?

A eleição não está decidida. Vai no voto a voto até o último minuto. Tudo indica que vai ser apertada, algo parecido com Dilma e Aécio. A onda do "já ganhou" do PT é a mesma que foi desmoralizada pelos resultados do 1º turno. Visa motivar o voto útil.

O presidente Jair Bolsonaro pisa nesta sexta, 28, em território inimigo. Vai travar um decisivo debate em território hostil.

Esqueçam as pesquisas e os noticiários das televisões de oposição. O que vale é o eleitor e a urna. No primeiro turno, o resultado deixou perplexos aqueles que já comemoravam o fim do bolsonarismo. O que se viu foi o contrário . Um arrasa-quarteirão de votos, parlamentares e governadores aliados eleito de forma surpreendente.

O jornalismo da Rede Globo dedicou as últimas edições do Jornal Nacional para contrapor o avanço de Bolsonaro. Cada chamada anti-Bolsonaro foi cercada de matérias pro-Lula. Quem diria? A emissora que colocou a corda no pescoço do ex-presidente e que defendeu a anulação de uma nomeação legítima, como ministro da Casa Civil de Dilma, agora o coloca em pedestal. Mas isso vai durar? Essa mídia de oposição trabalha com o Plano A, inicial de Alckmin. Querem primeiro remover Bolsonaro para depois remover Lula. É só assuntar as conversas de bastidores.

Com a vitória de Bolsonaro não será surpresa se o comando da Rede Globo acabar indo definitivamente para as mãos dos mexicanos. O bilionário Carlos Slim há muito tempo sonha com a ampliação do seu portfólio, que comprou a Net da Globo, e tem a Embratel e a Claro. As conversas passavam pelo resultado da eleição. Troca de comando só depois da escolha do novo presidente. Se houver a reeleição, o repasse do controle destes grupos de comunicação será acelerado.

Com Lula, o negócio passa a valer mais e deixa de ser sangria desatada. A concessão da Globo será renovada pelo atual Congresso e não há nada que seja contra.

O engajamento da Globo no anti-bolsonarismo, como disse Merval Pereira em O Globo: "muita gente vai fechar o nariz para votar em Lula pela primeira vez", é antes de tudo uma decisão empresarial. Lula não é o melhor cenário. Já o plano A, o Alckmin, é o garoto dos sonhos de todos eles. É um vice Cavalo de Troia, como foi Michel Temer no golpe que tirou Dilma Rousseff. Será que esqueceram como a Globo legitimou os golpistas?

A nova vitória do capitão tira da mesa milhões na negociação com Carlos Slim Helú. Alguém se lembra que o Carlos Slim Domit, filho do patriarca, já esteve no Brasil com Bolsonaro e logo depois pediu que a Globo fosse mais generosa com o presidente? Pedido atendido por certo tempo.

Existem muito mais coisas além da vitória de Jair Bolsonaro ou de Lula no domingo. A Presidência é apenas uma peça neste xadrez.

Quem assiste as demissões em massa de grandes artistas e salários na Globo, os enxugamentos são estruturais, sabe que as empresas estão fazendo o dever de casa para ficarem enxutas para ir ao mercado de forma competitiva. Com Bolsonaro mais 4 anos no poder, ela vale a metade. Já com Alckmin como presidente, ela valerá o dobro. É uma questão de tempo para estes negócios virem à tona.

Vale lembrar que além de Slim, existiram conversas do Banco Pactual e JBF para aquisição da Globo. Notícia que foi veemente desmentida, mas que incluía também esperar o resultado das eleições presidenciais, segundo o que foi apurado. Imaginem o cenário favorável para a JBF com Lula novamente no poder? Há muito mais em jogo do que a eleição de um presidente no próximo domingo.

*Diretor de Redação do Correio da Manhã

 

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