Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Giancarlo e Bormevet: dupla explosiva

Jean Willys: um dos adversários arapongados | Foto: Agência Brasil

Nas séries policiais, eles são um clássico. Em inglês, há até um termo: "buddy cop". No Brasil, onde tudo se subverte, os "buddy cops" não foram exatamente os mocinhos da história. Mas a dupla Giancarlo e Bormevet, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), se encaixa perfeitamente na categoria "buddy cop". Giancarlo Gomes Rodrigues e Marcelo Araújo Bormevet não cansam de espantar na leitura das 272 páginas da denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre a tentativa de golpe. Eles são o estrato do uso das estruturas públicas para atender a interesses particulares. Na segunda-feira (24), mostramos como a dupla juntou um fiapo nada comprovado de história para montar e disseminar uma fake news.

 

Arapongagem

Mas o capítulo dedicado aos "buddy cops" na denúncia de Gonet vai além. Partia dos dois toda sorte de arapongagem. Além da produção de fake news, o monitoramento de adversários políticos até o uso mesmo para interesses da família do ex-presidente Bolsonaro.

First Mille

Segundo Gonet, a dupla geralmente agia da seguinte forma. Bormevet indicava a Giancarlo alvos para arapongar. E ele, então, usava o sistema First Mille e outros para investigar as pessoas. Segundo a denúncia de Gonet, somente Giancarlo usou o First Mille 887 vezes.

De Jean Willys à mãe de Jair Renan, os alvos dos arapongas

Quantos carros tem Jair Renan? Tarefa dos arapongas | Foto: Reprodução material de campanha

O First Mille é um sistema que permite monitorar onde estão as pessoas a partir do georreferenciamento dos seus celulares. Gonet mostra que os "buddy cops" foram desde adversários políticos até pessoas mesmo da família do ex-presidente. O ex-deputado Jean Willys, hoje no PT, foi um dos adversários arapongados. Em 2018, após afirmar ter recebido ameaças de morte, Wllys renunciou ao seu mandato como deputado federal e autoexilou-se na Alemanha. Na página 55 da denúncia, Gonet mostra que a dupla espionou o ex-deputado. "Acho que consegui identificar o número que o cidadão está usando na Alemanha", diz Giancarlo.

Quais carros?

Segundo Gonet, uma das tarefas dos "buddy cops" foi investigar quantos carros haveria registrados nos nomes do filho 04 de Bolsonaro, Jair Renan, e de sua mãe, Ana Cristina Valle. A razão era o inquérito no qual Jair Renan foi indiciado por suspeita de lavagem de dinheiro.

"Pedido do 01"

Bormevet diz, que no caso, o pedido partira de "mensagem do 01". No caso, o "01" não seria o filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro, mas o próprio Bolsonaro. Uma "demanda urgente" para que pesquise carros "em nome do filho Renan". "Veja mãe dele também".

Ibama

Mesmo um fiscal do Ibama, Hugo Ferreira Netto Loss, vira alvo da dupla de arapongas. Os "buddy cops" dizem num diálogo que Loss teria atingido o "presidente diretamente". O que ele fazia? Sua tarefa era promover ações contra desmatamento e garimpo ilegal.

Loss

Hugo Ferreira Netto Loss acabou exonerado do Ibama. Parte das informações já constavam das investigações feitas na operação "Última Milha", uma referência ao nome do tal sistema que, traduzido, quer dizer "Primeira Milha". Espanta o detalhamento.