Por: Affonso Nunes

Uma sinfonia do tamanho de Edu Lobo

Os integrantes do Pife Muderno com Edu Lobo nos bastidores da gravação de 'Edu Pife', que conta com a participação do cantor e compositor em três faixas do trabalho | Foto: Marian Starosta/Divulgação

Nesta terça-feira (11) chega às plataformas digitais, via Biscoito Fino, o aguardado tributo do grupo Carlos Malta e Pife Muderno a Edu Lobo, um dos maiores nomes de nossa música cujas homenagens são sempre necessárias. O Correio ouviu álbum "Edu Pife" antes de seu lançamento. São 13 canções (em 12 faixas) que exploram a vasta e rica obra do compositor, multi-instrumentista e cantor, além de celebrar os 30 anos do Pife Muderno.

Malta mergulhou com profundidade na vasta discografia de Edu, tendo como ponto de partida seu compacto, lançado em 1962, para pensar a direção musical e os arranjos desse tributo. O músico conta que sempre teve uma relação íntima com a música de Edu, que fez parte de sua formação desde a infância.

"Eu tinha apenas 7 anos quando fui tocado por uma emoção inédita. Assistia ao Festival da Canção de 1967, e o jovem Edu Lobo tocava sua viola e cantava 'Ponteio'. A cada verso, eu me deixava levar pela música de um violeiro que criava melodias da mais pura fonte da música brasileira. 'Ponteio' é para mim um mapa de vida, uma carta náutica para navegar nos mares turbulentos da missão de ser músico", recorda o instrumentista. "Edu é meu mestre desde então, revelando uma estética sonora única, que mistura o tradicional e o moderno, o popular e o erudito", acrescanta Malta.

E o álbum entrega o que promete: captura a essência da grandiosa obra de Edu Lobo, que mescla elementos da música popular brasileira, bossa nova, jazz e a cultura nordestina. A começar pela divertida "Abertura do Circo", pinçada do álbum "o Grande Circo Místico" (1983), a genial parceria de Edu com Chico Buarque. A banda explora cada tema de forma a extrair o melhor das melodias de Edu Lobo. Malta conta ter aprendeu flauta ouvindo os discos de Edu. A melodia que acompanha o célebre refrão de "Ponteio" ("Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar, Ponteio!") foi para Malta um mantra.

Além disso, o álbum conta com participações especiais de Hermeto Pascoal (voz no copo, percussão corporal e escaleta, em "Vento Bravo"), Jaques Morelenbaum (violoncelo em "Repente") e o próprio Edu, que faz dueto com o jovem Matu Miranda nos vocalises de clássicos "Zanzibar", "Casa Forte" e "Água Verde".

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A tradição e modernidade do Pife

Mentor musical de Carlos Malta, Hermeto Paschoal participou da gravação do álbum em tributo a Edu Lobo | Foto: Marian Starosta/Divulgação

"Amúsica me levou a encontrá-los (Edu e Hermeto) nos palcos e estúdios: com Hermeto, durante 12 anos, e com Edu desde 1997, em diversos projetos, incluindo a comemoração dos seus 70 anos. Agora, faço a maior homenagem que poderia fazer a ele, com o 'Edu Pife'. E seguimos juntos, em um ciclo de amizade e parceria. Ô sorte!", comemora Malta, um dos mais respeitados músicos da cena instrumental brasileira, conhecido por seu virtuosismo na flauta e pelo dom de criar arranjos inovadores.

Foi com Hermeto, um dos músicos mais admirados do mundo, que o músico desenvolveu esse ecletismo e fusão de estilos, tudo marcado pelo estudo contínuo da música.

Fundado por Carlos Malta em 1994, o Pife Muderno é um dos grupos mais inovadores e originais da cena instrumental brasileira, com sua formação ousada e minimalista, composta por dois flautistas e quatro percussionistas.

O grupo se destaca pelo uso criativo dos pífanos e flautas, com timbres que variam entre o tradicional e o experimental, e uma percussão que mistura ritmos brasileiros com outros estilos. A proposta do grupo é levar os instrumentos típicos da cultura popular, como os pífanos do Nordeste, para o contexto de uma música mais aberta e contemporânea, fundindo a tradição com a inovação.

A sonoridade do grupo, marcada por timbres surpreendentes, tanto na percussão quanto nos sopros, revela a criatividade e o entrosamento do conjunto. Andrea Ernest Dias, que toca flautas (piccolo, soprano, alto e baixo) e pífanos, é a "parelha" de Carlos Malta, que também toca saxofone soprano e triângulo. O naipe de percussão conta com Marcos Suzano (pandeiros e cuíca), Bernardo Aguiar (pandeiros, sementes), Durval Pereira (zabumba, reco-reco, pandeiro) e Fofo Black (caixa, pratos, berimbau), que estreia no grupo, trazendo a força sonora do Maranhão.

Malta levou o grupo a explorar territórios sonoros inéditos, utilizando a flauta de maneira inovadora e abrindo espaço para novas leituras de músicas tradicionais e contemporâneas. Conhecido por seu trabalho como educador e mentor, Malta tem o mérito de compartilhar sua visão musical com novas gerações de músicos, como fez num de seus mais recentes trabalhos, o álbum "Pimentinha Sessions", um tributo ao repertório de Elis Regina, com uma banda formada apenas por músicos jovens.