Por: Affonso Nunes

Exercícios de liberdade

Antonio Manuel na obra Ocupações Descobrimentos | Foto: Romulo Fialdini/Divulgação

"Incontornáveis" é a série de trabalhos inéditos que Antonio Manuel desenvolveu durante o confinamento imposto pela pandemia. O título também dá nome ao livro que a BEI Editora lança nesta quinta-feira (20), às 19h, na Livraria da Travessa, em Ipanema. O evento contará com uma conversa entre o artista e o curador Paulo Venancio Filho. A edição bilíngue reúne seus experimentos mais recentes em diálogo com obras e performances que marcaram sua trajetória.

Com 208 páginas e um refinado projeto visual e gráfico, a publicação apresenta imagens da série "Incontornáveis", incluindo dois fac-símiles. O volume traz ainda textos inéditos dos curadores Ana Maria Maia e Paulo Venancio Filho, além do ensaio "O galo dos ovos de ouro", escrito por Décio Pignatari em 1973 para a exposição "Antonio Manuel (de 0 às 24 horas nas bancas de jornais)".

"As bases deste livro são esses novos trabalhos, criados no recolhimento de 2020. Vejo neles aberturas que se manifestam na ação precisa das mãos, como linhas contínuas de luz e energia. Um exercício de liberdade que se desdobra em acontecimentos e revelações", afirma Antonio Manuel.

As obras nascem da sobreposição de folhas de jornal, rasgadas e pintadas. Palavras encobertas por tinta ou destacadas pelo corte e pela cor estabelecem conexões com momentos-chave da trajetória do artista. Sua produção, ao longo de mais de cinco décadas, combina inquietação, resistência a autoritarismos e um senso apurado de surpresa e humor. "Prestem atenção ao rasgo: ele não desaponta. Sua minúcia deliberadamente calculada, a maestria dos dedos e a operação cirúrgica estética revelam a beleza e o desenho límpido da incisão", avisa o curador.

Jornais são um suporte recorrente na obra de Antonio Manuel. Em 1973, ele levou sua arte ao caderno de cultura do extinto O Jornal com a exposição "Antonio Manuel (de 0 às 24 horas nas bancas de jornais)", um comentário sobre o papel da mídia em tempos de censura. Agora, ele expande as 24 horas do impresso para refletir sobre a transitoriedade da informação e o valor da palavra escrita na contemporaneidade. esfera pública esvaziada", analisa Ana Maria Maia.