Em tempos de luta contra o conservadorismo de Javier Milei, prestes a leva seu muso Ricardo Darín à Netflix, com a série "El Eternauta", o audiovisual argentino se prepara para festejar a força de seu cinema - em tela grande - com uma nova edição - de número 26 - da maratona que expõe a carta de intenção de seu futuro: o Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires (BAFICI).
Essencial para a consolidação de vozes autorais na América Latina, o evento vai de 1 a 13 de abril, usando o Teatro San Martín como seu epicentro. A abertura fica por conta de "Upa! A Springtime in Athens, de Tamae Garateguy, Santiago Giralt e Camila Toker. A partir de sua projeção, a equipe curatorial, com direção artística de Javier Porta Fouz, detona um circuito de 500 sessões em 13 salas de exibição em diversos cantos da capital de sua pátria.
"Abril é a época do Bafici, e o primeiro dia do mês será o primeiro dia da festa. Desta vez, são treze dias. Mais projeções, mais diversidade e mais acesso ao cinema no cinema", celebra Fouz em comunicado oficial no site do evento, que, em 2024, consagrou o longa brasileiro "A Paixão Segundo GH", de Luiz Fernando Carvalho.
Atento a que se fez de melhor na Europa, na Ásia e na África, o radar de Fouz apitou diante da chance de exibir o aclamado "O Ano Novo Que Nunca Veio", de Bogdan Muresanu (Romênia), em sua seleção oficial. Foi dele o prêmio principal da mostra Horizontes do Festival de Veneza do ano passado. Seu enredo se passa em 20 de dezembro de 1989, quando o povo romeno se encontra à beira de uma revolução. As ruas estão repletas de manifestações, os estudantes tripudiam do regime por meio da arte e as apresentações de réveillon glorificam a figura do ditador Nicolae Ceausescu. Ao mesmo tempo, no desconforto das casas sem aquecimento, famílias enfrentam conflitos pessoais. Esse turbilhão redesenha caminhos... e afetos.
Ainda no pacotão Bafici 2025 entram: "Voyage Au Bord De La Guerre", de Antonin Peretjatko, e "Les Barbares", de Julie Delpy (França); o ganhador da Concha de Ouro "Tardes de Soledad", de Albert Serra (Espanha); "Levados Pelas Marés", de Jia Zhang-ke (China); "Misty - A História de Erroll Garner", de Georges Gachot (Suíça); "Spermageddon", de Tommy Wirkola e Rasmus A. Sivertsen (Noruega); "La Vita Accanto", de Marco Tullio Giordana (Itália); "Reflet Dans Un Diamant Mort", de Hélène Cattet e Bruno Forzani (Bélgica); e (o estonteante) "Pai Nosso - Os Últimos Dias", de Salazar de José Filipe Costa (Portugal).
Na seção Resgates, de cunho histórico, entram filmes recuperados e restaurados pela Cineteca Nacional do Chile como "Esperando a Godoy" (1973), de Cristián Sánchez, Rodrigo González e Sergio Navarro. Ainda em seu olhar para pretéritos perfeitos da cinefilia, o Bafici importou de Cannes "O Roteiro Da Minha Vida - François Truffaut" ("Le Scénario De Ma Vie - François Truffaut"), de David Teboul. O documentário se baseia em imagens de arquivo (algumas conhecidas, outras não) e em entrevistas pouco reproduzidas do artesão autoral por trás de objetos de culto como "Os Incompreendidos" (1959), na correspondência dele com o pai (adotivo) e, sobretudo, num relato autobiográfico iniciado alguns meses antes da sua batalha final contra o tumor que o matou.
Nas próximas duas semanas, o Bafici anuncia todas as suas atrações, celebrando a potência da produção cinematográfica de sua nação, apesar da falta de apoio de Milei. Em 22 de fevereiro, nuestros hermanos ganharam o Prêmio do Júri da Berlinale por "El Mensaje", de Iván Fund. Há uma expectativa por novos títulos argentinos para as disputas do Festival de Cannes, em maio.