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Paulo-Roberto Andel: Ro-Rô pra fechar o verão

Os shos de Angela Ro Ro são sempre imperdíveis | Foto: Tatá Barreto/Divulgação

Como os tempos voam a mil por hora, a gente mal falou dos fogos do réveillon e já estamos a caminho de abril. Agora somos outono, de duas com as folhas no chão e certa chuva pontual. Note que em fevereiro não havia caído uma gota d'água. O calorão foi barra pesada, mas passou. O Carnaval dominou o mundo e se mandou. É, o verão acabou. Logo, logo, ele volta.

O meu verão ia acabar no primeiro Fla x Flu da decisão do campeonato, uma quarta-feira. O Rio teve uma chuva maluca, que ignorou vários bairros mas castigou outros.

No Centro o caldo estourou: várias ruas viraram riachos, árvores e postes caíram e, se eu mesmo não pusesse a vida em risco, atravessando uns 30 metros com água no joelho, não veria o Fla x Flu no conforto da TV. Deu Fla, ainda tinha jogo, esfriei a cabeça.

Então percebi que ainda tinha verão até domingo, com o segundo jogo da final e, antes, a despedida dos blocos no Centro.

Chegou a quinta-feira e tirei onda. Vi um dos grandes shows da minha vida. Ângela Rô-Rô, símbolo do Rio, aos 75 anos botou pra sacudir o Teatro do BNDES lotado de fãs, bem no coração da cidade.

Não bastasse ser uma das maiores cantoras do nosso tempo, Ângela é uma garantia de risos, danada para contar histórias e causos hilariantes entre as canções - que ela tem aos montes, mesmo quando se trata de ex-amores. Uma tremenda companhia para se conversar por horas.

Enquanto faz piada com a própria idade, mas espantada com as cantadas que recebe "das novinha", ela assoa o nariz, ajeita a roupa mil vezes e dispara clássicos eternizados da MPB como "Simples carinho", "Só nos resta viver" e, claro, sempre fechando a apresentação, "Amor, meu grande amor". No meio do caminho, interpretações vigorosas do cancioneiro internacional como "Night and day" e "Ne me quittes pas". Ao lado de R2, seu inseparável maestro Ricardo Mac Cord, pianista cristalino e parceiro de décadas. Enfim, um espetáculo para ninguém botar defeito e de graça: o teatro do BNDES tem uma programação semanal às quintas e sextas, vale conferir. Artigo Barnabé virá em breve.

Garota carioca, suingue bluesy bom, botando rock nas baladas, a maravilhosa Angela Rô Rô não tem herdeiros musicais. Ninguém faz essa mistura tão bem dosada de baladas, standarts e underground como ela ainda faz. Aliás, tínhamos uma, que infelizmente perdemos precocemente no caminho: Cássia Eller. Vamos usar e abusar de Ângela, vamos ouvir tudo que Ângela tem pra cantar pois ainda há muito tempo, mas a vida é hoje.

No fim de semana seguinte ao show, os blocos deram adeus e o Flu perdeu o título. Paciência. Foi aí que realmente entendi que o verão tinha assentado praça na quinta mesmo, com a plateia inteira do Teatro do BNDES cantando "Amor, meu grande amor" de pé. As águas de março já estão partindo, mas a tricolor Rô-Rô volta em maio no Teatro Rival. Vale a pena ver de novo.