Por:

Paulo-Roberto Andel: Carlos, o eterno vigilante

Carlos Miranda | Foto: Reprodução

Falecido na segunda-feira passada na longevidade dos 91 anos, o policial rodoviário aposentado Carlos Miranda causou comoção e saudade em muitos brasileiros que, ao contrário do que determina a máxima de mestre Ivan Lessa ("A cada quinze anos os brasileiros se esquecem do que aconteceu nos últimos quinze anos"), mostraram verdadeira fidelidade a um ídolo seis décadas depois de seu principal trabalho artístico.

Entre 1962 e 1963, ao lado de seu eterno cachorro Lobo, Carlos Miranda se consagrou como o primeiro herói genuinamente brasileiro da nossa televisão interpretando o "Vigilante Rodoviário", um sucesso estrondoso na TV Tupi. Importante dizer que, tal como muitos de seus colegas, Carlos já vinha de uma longa batalha por um lugar ao sol desde os quinze anos de idade, quando começou cantando no circo e a seguir frequentando os grupos de teatro popular do Sesi. Também trabalhou nos estúdios da Companhia Cinematográfica Maristela, de onde saíram os equipamentos para a montagem do primeiro estúdio de dublagem de filmes estrangeiros no país. E "Vigilante Rodoviário" não ficou para trás: foi o primeiro seriado filmado com película de cinema no Brasil. Tome pioneirismo. Até os veículos não escaparam da fama eterna: a moto Harley Davidson e o carro Simca Chambord utilizados por Carlos no seriado viraram febre de colecionismo entre os fãs.

Para o papel que consagraria sua carreira artística para sempre, Carlos Miranda precisou fazer uma preparação intensa de modo a se mostrar convincente no papel de galã policial das estradas. Assim, passou a treinar regularmente na Escola de Polícia Rodoviária localizada na cidade de Jundiaí, SP. E aí aconteceria uma guinada definitiva na vida de Carlos: o sucesso da série não garantiu uma longa continuidade do trabalho - foram 38 episódios de 22 minutos cada, finalizados em 1963. Após o encerramento dos trabalhos na TV Tupi, o ator foi convidado pelo então comandante geral da Força Pública - e também general de Exército -, João Franco Pontes a ingressar na carreira policial. A vida imitou a arte e Carlos seguiu na Polícia Rodoviária até 1998, quando foi reformado com o posto de Tenente Coronel.

De toda forma, Carlos Miranda jamais aposentou o Vigilante: participava de eventos, festas e acontecimentos ligados ao personagem. Volta e meia era visto com sua farda da corporação. Ídolo dos anos 1960, manteve-se no imaginário de várias gerações, tanto pela força da obra televisiva quanto porque a série de TV ganhou reapresentações, sendo a mais recente na TV Brasil, trazendo novamente à tona uma das figuras mais marcantes e devotadas da televisão brasileira em todos os tempos.