O Teatro Gláucio Gill inaugura, nesta quarta-feira, 19 de março de 2025, às 18h, a exposição "Aderbal Teatro Cidade", uma homenagem ao diretor, ator e apresentador Aderbal Freire-Filho, falecido em 2023. Com curadoria de César Oiticica Filho, a mostra destaca a vasta obra de um dos mais importantes e criativos dramaturgos brasileiros, que tem uma conexão histórica com o Teatro Gláucio Gill. Em 1989, ele criou ali o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (CDCE), um marco na dramaturgia nacional. Idealizada por Rafael Raposo, com conceito visual de Lea van Steen, a exposição se expande além do teatro, ocupando também a Praça Cardeal Arcoverde.
"Nosso objetivo foi criar uma exposição que fosse, ao mesmo tempo, uma obra de arte, trazendo a experimentação tão presente no teatro de Aderbal e o diálogo com a cidade, característica marcante de seu trabalho", afirma o curador César Oiticica Filho.
Recém-reinaugurado após um ano de reformas, o Teatro Gláucio Gill ganhou uma sala expositiva, onde será apresentada uma videoinstalação permeada por falas e frases de Aderbal, aproximando o público de sua obra e visão de mundo. Duas telas, dispostas frente a frente, apresentarão, de um lado, sua figura e, de outro, seus projetos, criando um espaço onde os visitantes poderão relaxar ao som de sua própria voz. "Dessa forma, conseguimos transmitir sua potência. É como uma explosão que partiu dali nos anos 1980 e gerou tantas coisas, muitas delas nesse contato com a rua e a cidade", explica o curador. "O Aderbal nunca esqueceu o Teatro Gláucio Gill, e este tem o dever institucional de preservar sua memória e legado", destaca Rafael Raposo, diretor do teatro.
Para Aderbal, o teatro era um meio de despertar a consciência crítica do espectador e realizar-se na coletividade. Por isso, não se limitou aos palcos convencionais, ocupando também as ruas. No Rio de Janeiro, cidade onde escolheu viver, encenou espetáculos dentro de ônibus em movimento, em museus, parques e espaços subterrâneos do metrô ainda em construção. Seguindo esse espírito, a exposição também se expande para a Praça Cardeal Arcoverde, onde serão exibidas imagens e cartazes de espetáculos históricos. "Vamos honrar o caráter experimental de Aderbal ao dialogar com a cidade, levando a obra para fora do teatro, em contato direto com as pessoas", explica o curador.
Em 1989, Aderbal ocupou o Gláucio Gill, então abandonado, e criou o CDCE. "Essa ocupação fomentou o pensamento artístico com rodas de leitura, seminários, feira de livros e grandes espetáculos", lembra o produtor executivo Cleisson Vidal. "Talvez esse tenha sido seu momento mais revolucionário. Sempre inovador, ele transformou um prédio em ruínas em um equipamento cultural de relevância", acrescenta o curador. O CDCE tornou-se um verdadeiro laboratório teatral, gerando avanços na linguagem cênica e contribuindo ativamente para a revitalização do prédio e do entorno.
"A exposição tem a missão de dar visibilidade ao artista. Aderbal dizia que o ator se torna invisível ao fim da peça, mas que o diretor é invisível sempre. Quero torná-lo visível, mostrando quem foi esse homem que, entre tantas conquistas, recuperou esse espaço para o teatro, para o Rio de Janeiro e para a cultura brasileira", conclui César Oiticica Filho.
Diretor, ator e apresentador, Aderbal Freire-Filho destacou-se por aliar a busca por novas formas teatrais a uma encenação que coloca o ator no centro da comunicação dramática. Formado em Direito, iniciou sua trajetória teatral em Fortaleza, nos anos 1950. Radicado no Rio desde 1970, estreou como ator em "Diário de um Louco", de Nikolai Gogol, encenado dentro de um ônibus. Em 1977, dirigiu "A Morte de Danton", de Georg Büchner, em um canteiro subterrâneo do metrô carioca. No final da década de 1980, retomou seu projeto de companhia teatral e revitalizou o Teatro Gláucio Gill, reabrindo-o com "A Mulher Carioca aos 22 Anos", pelo qual recebeu o Prêmio Shell.
Sua prática teatral se combinava a uma intensa reflexão sobre o ofício, expressa em palestras, oficinas e textos sobre teatro. Lecionou na Casa das Artes de Laranjeiras, na Escola de Teatro Martins Pena e na Faculdade de Letras da UFRJ, além de coordenar um curso de pós-graduação na Escola de Comunicação da UFRJ. Ao longo de sua carreira, explorou diversas linguagens e projetos cênicos, sempre com uma abordagem inovadora e questionadora da criação teatral.
SERVIÇO
ADERBAL TEATRO CIDADE
Teatro Gláucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde s/nº - Copacabana)
De 19/3 a 19/4, diarimente das 10h às 22h | Entrada franca