Por Pedro Sobreiro
Chega ao Disney nesta quinta-feira (6) a série 'Deli Boys', uma mistura de aventura, ação e humor politicamente incorreto que se destaca por suas cenas de violência gráfica e pelas relações hilárias entre uma família completamente disfuncional e o mundo do crime.
A série acompanha Mir (Asif Ali) e Raj (Saagar Shaikh), dois irmãos completamente diferentes que vivem separados e se encontram apenas nas reuniões com o pai, um magnata do ramo das lojinhas de conveniências que se firmou nos Estados Unidos após um complexo processo de imigração.
No entanto, de uma hora para outra, o patriarca morre e o FBI revela que as lojas eram apenas fachada para seu verdadeiro negócio: o tráfico internacional. Sem chão - e sem dinheiro -, Raj e Mir vão tentar recomeçar a vida do zero trabalhando em uma das lojinhas que não foi apreendida pela Justiça. O problema é que os antigos parceiros do pai vão chegar até eles, levando os dois irmãos para uma viagem insana, violenta e ridiculamente hilária pelo mundo do tráfico.
A convite da Disney, o Correio da Manhã entrevistou o criador e o elenco da série, e descobriu que o grande motivo do show funcionar é por conta do grande e inventivo roteiro.
Segundo Abdullah Saeed, criador e roteirista da série, eles receberam muitas negativas de estúdios e produtores porque acharam que 'Deli Boys' era "louca demais". Porém, foi isso que o incentivou a seguir escrevendo um show que buscava justamente essa visão fora da caixinha.
"Quando criei a série, eu busquei retratar a experiência de ser um imigrante nos Estados Unidos por uma nova perspectiva. A gente não queria mostrar aquela visão batida da família sofrida passando por dificuldades, sabe? Eu também estava de saco cheio de ver pessoas sul-asiáticas e muçulmanos sendo retratados como terroristas ou motoristas de táxi. Chega disso! São pessoas normais vivendo. Ao mesmo tempo, as lojas de conveniência são parte da cultura do imigrante nos EUA. Por mais que haja debates e tudo mais, eu gosto muito do ambiente das lojas de conveniências. E isso dialogou comigo de uma forma que parecia autêntico. Foi daí que veio a ideia", explicou Abdullah.
O roteiro também foi muito elogiado por Saagar Shaikh (Raj) e Asif Ali (Mir), que destacaram como essa comédia de erros parte de uma história muito trágica.
"É ótimo como o show tem o ponto forte na comédia, mas você vê que a base da história é muito trágica. Esses caras estão passando pelo momento mais dolorido da vida deles e aí, quando você acha que eles vão ter um pouco de paz, surgem os segredos do pai e essa vida de crime acaba sendo forçada para o dia a dia deles. Então, mesmo chegando ao fundo do poço, eles seguem lutando para se reerguer. E a ideia de ter essas novas aventuras insanas chegando a cada episódio faz com que eles tenham que se apoiar cada vez mais", comentou Saagar.
"Nossos personagens estão lidando com o luto pela perda do pai e como isso costuma a mexer com a cabeça das pessoas. Nós começamos a questionar como eles vão se manter, mas também qual o propósito deles no mundo. E isso mexe com uma zona sombria. Mas, ao mesmo tempo, essa é a graça da comédia, não é? Ela te permite abordar temas pesados por uma ótica que vai te fazer rir disso, mesmo que não queira. E isso se deve à genialidade do roteiro, que brinca com esses temas pesados sem perder o realismo. Porque, por mais absurdos que sejam alguns momentos, a comédia só funciona porque você acredita que aquilo pode estar acontecendo ao seu lado. Se a morte do nosso pai não parecesse de verdade, a comédia da série não se sustentaria. É uma prova de como o texto foi bem trabalhado. O time prestou atenção nos mínimos detalhes para que o público sentisse o peso das situações e ainda assim pudesse gargalhar justamente por se tratar de um tema pesado", completou Asif.
Relação fora das telas
Um dos pontos comuns ao elenco é que a experiência de trabalho foi muito positiva e teve muitos ganhos por conta da excelente relação interpessoal que tiveram foram das telas, com muitos virando amigos pessoais. E isso rendeu momentos divertidíssimos.
"O Abdullah é muito criativo e pensa em situações muito fora da caixinha", disse Asif.
"É verdade. E a gente percebia isso até mesmo fora das cenas, quando a gente saía com ele. As piadas que ele conta no dia a dia são coisa de outro mundo. Tem vezes que ele vem com umas tiradas que te fazem falar: 'Cara, de onde você tira essas coisas? Que tipo de arquivo insano você tem dentro da cabeça para chegar nisso?'. Eu queria muito conseguir entender como funciona a mente dele", brincou Saagar.
Quem colaborou com esses relatos do bom clima nos bastidores foi o ícone da moda e apresentador, Tan France. O apresentador do "Next In Fashion" foi convidado para fazer uma participação especial como um personagem completamente diferente do que o público está habituado a vê-lo no streaming e se disse perdidamente apaixonado pelo ofício de ator em produções roteirizadas, e muito disso se deve ao excelente ambiente que encontrou nos sets.
"Realmente, me faltam palavras para explicar o quanto esse elenco tinha química. Você conseguia sentir no ar, sabe? Eles eram muito gentis um com o outro e estavam todos muito gratos de estarem ali. E o show só deu certo por conta disso. Eu não fazia ideia de que um set de filmagem de uma produção desse tipo pudesse ser tão maravilhoso. A gente saía dos sets e não tinha isso de cada um ir para o seu trailer. Todos queriam andar juntos o tempo inteiro. Foi algo estelar!", revelou Tan France.
Do Brasil para o mundo
Apesar da grande química dos protagonistas e do elenco, quem rouba a cena é a atriz Poorna Jagannathan. Nascida na Tunísia, a atriz americana viveu muitas culturas em sua vida, mas guarda com muito carinho um capítulo que foi fundamental para sua carreira: ela estudou Artes Cênicas na Universidade de Brasília, a UNB.
Durante a entrevista, ela declarou seu amor pelo Brasil e afirmou que a arte brasileira influenciou muito em seu trabalho.
"Meu Deus, eu não tenho palavras para dizer o quanto o Brasil influenciou na minha profissão. Eu estudei Artes Cênicas na UNB, aprendi muito sobre atuação e direção. E nossa! Eu falava tão bem português, mas esqueci quase tudo. Mas é meu lugar favorito no mundo. Minhas memórias mais amadas são dessa época no Brasil, e eu estava aí no meu aniversário de 20 anos. Então, quando cheguei aos 50, só conseguia pensar em voltar. Então, há dois anos, eu voltei para o Brasil para comemorar meus 50 anos. Fui para Salvador, Caraíva, e tem alguma coisa no Brasil que me faz ter certeza que é o único país no mundo em que eu viveria feliz, além do meu próprio. É o mais perto que eu me sinto de casa", disse. Em português, ela completou: "Tenho muita saudade do Brasil".
Para Poorna, que interpreta a 'Tia Lucky', uma espécie de figura materna dos meninos, que logo se revela uma grande chefona do crime, além do excelente bom humor, a série deve dialogar com o público do Brasil por falar essencialmente sobre família.
"Falando pelas minhas experiências no Brasil, eu acho que a série dialoga muito bem com a cultura daí por falar muito sobre família, lealdade e a busca por amor. E também por querer estar próximo de quem amamos para nos recuperarmos desses momentos de dificuldade. Eu aprendi muito sobre isso por aí. E assim como a cultura sul-asiática, a série tem esse apego familiar e a formas de se manter unido mesmo com tantos desafios tentando nos separar diariamente. Espero mesmo que essa temática familiar consiga chegar aos meus lindos e queridos fãs brasileiros", finalizou.
A série chegou completinha ao Disney nesta quinta-feira (6). Ainda não há uma segunda temporada confirmada, mas quem sabe o amor dos fãs brasileiros não consiga chamar atenção dos executivos para dar a esses personagens uma nova aventura?