A nova guinada da Casa Branca na condução das conversas sobre a paz na Ucrânia causou desconforto e ceticismo no Kremlin, particularmente pela imediata retomada da assistência militar americana a Kiev, vista como uma forma de pressão.
Na terça (11), uma reunião entre negociadores americanos e ucranianos em Jeddah, na Arábia Saudita, resultou em Kiev aceitando uma proposta de cessar-fogo de 30 dias com os russos para começar a discutir termos para uma paz definitiva.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou nesta quarta (12) que a Rússia espera um relato americano acerca do que foi discutido, o que pode ocorrer em um telefonema direto entre Donald Trump e Vladimir Putin até a sexta (14), para analisar a proposta.
O posicionamento, previsível para ganhar tempo, reflete o clima de apreensão na sede do poder russo. Segundo a reportagem ouviu de uma pessoa com conhecimento do assunto em Moscou, o vaivém de Trump, ora alinhado claramente à visão russa da guerra, ora próximo de Kiev, sugere o que ela chamou de falta de confiabilidade.
Sob essa ótica, Trump na realidade não tem um plano para o fim da guerra iniciada há pouco mais de três anos por Putin. A trégua seria uma forma de ele apresentar-se ao mundo como pacificador enquanto compra brigas em sua guerra tarifária, e sua eventual violação ficaria na conta de Moscou e de Kiev.
O bate-boca entre Trump e Zelenski na Casa Branca, as acusações mútuas, tudo isso podem ser apenas detalhes narrativos para manipular os jogadores, diz o observador. O próprio chefe da delegação americana, o secretário de Estado, Marco Rubio, já havia dito na semana passada que "ninguém tem ideia" de como acabar o conflito.
Por Igor Gielow (Folhapress)