Em 2025, o rock nacional completa 70 anos de história e, para marcar essa data, o diretor e escritor Paulo Marchetti anunciou o lançamento do livro "O Calendário do Rock Brasileiro". A obra, que reúne mais de 1.800 efemérides musicais, aborda uma vasta gama de eventos, fatos e acontecimentos históricos do gênero no Brasil, organizados ao longo de 365 dias, de janeiro a dezembro.
A publicação, que conta com 358 páginas, traz uma ampla coleção de registros relacionados ao rock brasileiro, desde os primórdios do estilo no país até a cena contemporânea. O livro apresenta desde datas curiosas e significativas até momentos marcantes da música brasileira, incluindo os lançamentos dos grandes clássicos do rock, os conflitos entre artistas e a polícia, além de detalhes sobre festivais e as diversas cenas alternativas ao longo das décadas.
Entre os destaques, estão os primeiros artistas de rock do Brasil, como Bob Bolão, Betinho e Seu Conjunto, Ronnie Cord, e as bandas The Snakes e The Clevers, além de uma cobertura detalhada sobre os anos 1970, com o desenvolvimento do rock progressivo e psicodélico no país. Marchetti também dedica atenção a períodos da música brasileira dos anos 1980 e 1990, momentos decisivos para a formação da cena rock no Brasil. O livro inclui ainda episódios marcantes da cena alternativa que surgiu ainda na década de 1950.
Em contexto
De acordo com o autor, a elaboração de um documento dessa magnitude foi um desafio considerável. "Fazer sozinho um trabalho desse tamanho não foi fácil, é uma responsabilidade enorme, inclusive com os detalhes", explica Marchetti. O processo de criação do livro exigiu anos de pesquisa e investigação. Marchetti relata que cada data foi meticulosamente verificada, com a busca de múltiplas fontes, especialmente em um período em que a internet ainda estava em desenvolvimento. Isso o levou a pesquisar em bibliotecas, bancos de dados de jornais antigos e a buscar conteúdo em sebos literários e de discos de vinil.
O autor explica que a ideia do livro surgiu a partir de seu trabalho na MTV Brasil entre 1993 e 2000. "Comecei a juntar algumas efemérides de forma aleatória, durante meus trabalhos de direção, pesquisa e texto na MTV Brasil", conta ele. Foi durante esse período que Marchetti teve acesso a arquivos da emissora, onde conheceu livros que tratavam de momentos importantes do rock, o que lhe deu o impulso para começar sua própria coleção sobre o gênero no Brasil.
O livro é considerado o primeiro do gênero no Brasil e prioriza o período entre 1955 e 2000, mas também contempla eventos importantes do rock brasileiro entre 2000 e 2024. A pesquisa de Marchetti compilou informações sobre todos os aspectos do rock, desde as origens do gênero até a evolução das cenas alternativas e as produções contemporâneas.
Sobre histórias
Paulo Marchetti, nascido em Piracicaba (SP) em 1970, tem uma carreira consolidada como diretor artístico e de conteúdo para televisão e projetos especiais. Atualmente na TV Cultura, tem uma longa trajetória em veículos como MTV Brasil, SBT, Band, Discovery, History, Multishow, Disney e Record. Sua relação com a música e o rock brasileiro vem desde sua juventude em Brasília, onde morou entre 1974 e 1987, e fez parte da chamada "Turma da Colina", que acompanhava os primeiros ensaios e shows de bandas como Plebe Rude, Capital Inicial e Legião Urbana. Também foi membro da banda Filhos de Mengele, formada em 1985, e que teve como baterista Digão, antes deste se juntar ao Raimundos.
Em 2001, Marchetti lançou seu primeiro livro, "O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília" (Conrad, 2001 e Pedra na Mão, 2013), que faz parte do acervo da biblioteca da Universidade de Berkeley, na Califórnia, e é um dos poucos livros em língua portuguesa sobre o tema. Sobre seu novo trabalho, ele afirma que "O Calendário do Rock Brasileiro" tem um enfoque diferente, e que é um livro especialmente útil para mídias que cobrem música e cultura jovem. Marchetti destaca que a proposta da obra não é ser uma peça de estante, mas sim um livro de consulta diária. Ele acredita que, com o passar do tempo, o livro vai se tornar ainda mais valioso como documento histórico.
Marchetti, que se dedicou ao projeto durante vários anos, considera que o livro não é apenas uma coleção de datas, mas uma verdadeira história viva do rock brasileiro. "É um livro atemporal que vai deixar viva a memória do rock brasileiro em seus mínimos detalhes e que, com a distância do tempo, irá ganhar mais valor", afirma o autor.