O Brasil de 2025 segue sendo um país marcado por contrastes. Enquanto discutimos avanços tecnológicos, inteligência artificial e a transição para um futuro mais sustentável, ainda tropeçamos no básico: saneamento. Entra governo, sai governo, e o problema persiste, condenando milhões de brasileiros a condições insalubres que comprometem a saúde e a dignidade.
Os números recém-divulgados pelo Instituto Trata Brasil são vergonhosos. Em 2024, mais de 344 mil pessoas precisaram ser internadas por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado. Deste total, 168,7 mil casos foram provocados por infecções transmitidas por insetos-vetores, com a dengue assumindo o protagonismo. Outras 163,8 mil internações foram causadas por doenças transmitidas pela via feco-oral, como gastroenterites virais, bacterianas e parasitárias. São quase 950 internações por dia - uma estatística inadmissível para um país que se pretende desenvolvido.
Há mais de uma década os dados mostram uma queda média de 3,6% ao ano nos casos, mas essa redução é insuficiente diante da urgência do problema. Enquanto o Brasil não universalizar o acesso ao saneamento básico, continuará gastando bilhões com internações evitáveis e perdendo vidas que poderiam ser poupadas.
A responsabilidade é de todos os níveis de governo, e a inércia precisa ser cobrada. O novo marco legal do saneamento, aprovado em 2020, prometeu avanços, mas a execução ainda é lenta e desigual. Municípios pobres, muitas vezes, sequer conseguem arcar com os custos das obras necessárias, enquanto setores privados hesitam em investir onde o retorno financeiro é incerto.