O número de eleitores que desaprovam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) supera aqueles que aprovam sua gestão em oito estados brasileiros, incluindo alguns de seus tradicionais redutos eleitorais no Nordeste. Os dados são da pesquisa Quaest, encomendada pela Genial Investimentos, divulgada nesta quarta-feira (26). O levantamento abrangeu os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Pernambuco, Goiás e Rio Grande do Sul, e indica uma queda na popularidade do presidente em comparação com o relatório de dezembro de 2024. Pela primeira vez avaliados, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul seguiram a tendência de alta desaprovação.
Em seis desses estados, o índice de desaprovação ultrapassou os 60%. Na ordem decrescente, destacam-se Goiás (70%), São Paulo (69%), Paraná (66%), Rio Grande do Sul (64%), Rio de Janeiro e Minas Gerais (63%). No Nordeste, os números são mais baixos, com 51% na Bahia e 50% em Pernambuco, mas houve um aumento significativo de pelo menos 18 pontos percentuais (p.p) em relação à pesquisa anterior.
Economia
Embora o Produto Interno Bruto (PIB) tenha crescido 3,5% em 2024, a percepção da população nos oito estados pesquisados é de que a economia piorou nos últimos 12 meses. Quase todos os entrevistados concordam que houve um aumento no preço dos alimentos, com pelo menos 92% das pessoas em cada localidade confirmando essa elevação.
Para o cientista político Isaac Jordão, o governo não tem conseguido traduzir os bons números da economia em melhorias reais para o bolso do eleitorado, especialmente o mais pobre. “Caso essa situação persista — a alta dos alimentos em contraste com os avanços econômicos — é provável que o cenário para Lula em 2026 seja complicado”, afirmou em entrevista ao Correio da Manhã.
Além do fator econômico, a maioria dos entrevistados acredita que o país está indo na direção errada. Segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, a falta de um rumo claro transmite insegurança para a população. “A consequência disso é que, na maioria dos estados pesquisados, há uma grande expectativa de que o governo de Lula, nos próximos dois anos, seja diferente do que tem sido até agora. As pessoas esperam mudanças significativas”, destacou.
E 2026?
A pesquisa também analisou diferentes cenários de segundo turno para as eleições de 2026. O estudo revelou que Lula venceria todos os possíveis candidatos na Bahia e em Pernambuco. Em São Paulo, ele perderia ou empataria contra qualquer nome. Em Minas Gerais, venceria apenas o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União). No Rio de Janeiro, empataria com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e venceria os outros candidatos. No Rio Grande do Sul, venceria Caiado e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), mas perderia para os demais nomes. Já no Paraná e em Goiás, seria derrotado por todos os concorrentes.
O cenário, no entanto, ainda é incerto. O principal nome da direita para a eleição de 2026 é Bolsonaro, que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas continua defendendo mudanças na Lei da Ficha Limpa para poder se candidatar. Nesse contexto, um dos principais articuladores do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Progressistas, alertou Bolsonaro sobre a estratégia que está sendo adotada.
De acordo com Nogueira, se Bolsonaro não indicar um substituto para a disputa, a responsabilidade ficará com um de seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O senador também sugeriu que, caso Bolsonaro deseje apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), na eleição de 2026, ele precisará tomar essa decisão ainda este ano. Para serem candidatos à Presidência, os governadores precisariam se desincompatibilizar dos seus cargos antes de abril de 2026.
Isaac Jordão comentou que o presidente do Progressistas entende que, se Bolsonaro repetir a estratégia adotada em 2018, quando o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o atual ministro da Fazenda Fernando Haddad de última hora em seu lugar, poderá acabar derrotado e com seu grupo político fora do governo. “Ele está claramente tentando evitar uma situação em que acabe relegado a ministérios ‘periféricos’ e sem espaço para negociações vantajosas no próximo governo, seja quem for o presidente”, concluiu o cientista político.