Por: Karoline Cavalcante

Troca de afagos entre Lula e Tarcísio não indica fim da polarização

Lula e Tarcísio: cordialidade entre adversários políticos | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em um ambiente de cordialidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou a importância da parceria com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ressaltando o papel estratégico das colaborações entre ambos.

Com grande probabilidade de serem os principais adversários nas eleições de 2026, Lula e Tarcísio subiram juntos no mesmo palanque na quinta-feira (27). Durante a cerimônia de lançamento do edital para a construção do túnel submerso Santos-Guarujá, Lula enfatizou que o governador está "fazendo história" com os projetos conjuntos e defendeu o diálogo como uma ferramenta fundamental para superar os desafios do país, mesmo entre políticos de diferentes espectros ideológicos.

Alinhado à direita e sendo próximo ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo é cotado como um dos possíveis candidatos à Presidência nas eleições de 2026, devido à inelegibilidade de Bolsonaro até 2030. Durante o evento, Lula também aproveitou a oportunidade para fazer uma crítica velada ao ex-presidente.

Provocação

"Pode ficar certo de que o povo sabe o que está acontecendo. Tem gente ao lado do Tarcísio que não gosta de vê-lo ao meu lado. E tem gente ao meu lado que não gosta de me ver ao seu lado. Mas precisamos entender que temos um único lado: o de atender bem o povo de São Paulo e do Brasil", afirmou o presidente. Em tom irônico, Lula completou: "Tarcísio, não se preocupe, que teremos muitas fotos juntos. O mais grave para nossos adversários é ver a gente rindo nas fotos."

Além disso, Lula fez questão de defender a manutenção de uma relação civilizada com prefeitos e governadores de siglas opostas. "Eu jamais vou perseguir alguém porque votou contra mim”, afirmou.

No início de sua fala, o governador de São Paulo foi recebido com vaias por parte de uma parcela do público presente. Ainda assim, Tarcísio fez questão de elogiar o presidente e agradecer pelo apoio na publicação do edital. "Desde o início, tivemos conversas sobre o túnel. O senhor priorizou essa questão. E lembro que o senhor disse: ‘Não é hora para disputa política, precisamos atender o cidadão’. E é isso que estamos fazendo hoje", afirmou Tarcísio.

Polarização

Por mais, porém, que a presença dos adversários em um mesmo palanque seja uma postura civilizada que rareou na política brasileira, ao Correio da Manhã analistas políticos avaliaram que a polarização política no Brasil não parece estar próxima de um fim, e que esse cenário tende a se intensificar com a aproximação do período eleitoral.

Tarcísio ainda não confirmou sua candidatura, mas, para o presidente do Instituto Monitor da Democracia, Márcio Coimbra, a relação harmoniosa entre os dois reflete uma necessidade mútua. "Ambos sabem que precisam um do outro neste momento", explicou.

O analista também destacou que Tarcísio se distingue de outros líderes de direita, como Bolsonaro, por ser mais ponderado. "Tarcísio é um líder diferente desses perfis mais mercuriais. Ele tem uma formação na burocracia de Brasília, foi concursado da Câmara dos Deputados, trabalhou no governo Dilma Rousseff (PT) e também no governo Bolsonaro. Ele compreende que, como burocrata da máquina pública, o diálogo é fundamental para resolver questões. Então, vejo essa relação com Lula mais como uma característica do próprio Tarcísio do que como um fim da polarização", concluiu Coimbra.

Na opinião do cientista político Flávio Testa, Lula poderá estar fora da disputa em 2026 – ele próprio já deu algumas vezes essa sinalização. E que Tarcísio possa ser um dos finalistas na corrida presidencial.