Se havia dúvidas quanto ao perfil de Gleisi Hoffmann na capacidade de articulação com o Centrão e a direita no Congresso Nacional, imaginava-se que sua entrada na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência ajudaria na construção da sua sucessão na presidência do PT, de onde saiu para assumir o ministério. Aparentemente, porém, o que aconteceu foi o oposto.
Menos de uma semana antes de tomar posse na secretaria, Gleisi promoveu uma reunião na sua casa, na última quinta-feira (6), que contou com a presença do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para tratar da sucessão no partido. E, na reunião, foram feitas duras críticas ao ex-prefeito de Araraquara e pré-candidato à presidência do PT, Edinho Silva, o nome preferido de Lula para o cargo.
As críticas feitas na reunião acabaram vazando para a imprensa. E Edinho fez duras críticas a esse fato. Segundo ele, a imagem do presidente foi “usada” como uma arma de disputa política interna pelo controle da sigla. Em um evento realizado na cidade de Matão, no interior de São Paulo, ele declarou estar "muito indignado" com o vazamento do encontro para a imprensa.
“Lula vai para uma reunião para que a gente possa construir unidade e ela é vazada para a imprensa como instrumento de luta interna. Nós não podemos aceitar. Eu estou muito indignado com o que aconteceu, da forma como aconteceu, mas isso não me desestimula. Ao contrário, isso me estimula a lutar para a construção do partido que nós temos que construir”, declarou.
A reunião, realizada na última quinta-feira (6), ocorreu na casa da ex-presidente do PT e atual ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. O encontro contou com representantes da corrente majoritária do partido, a Construindo um Novo Brasil (CNB), e teve como principal objetivo discutir o próximo nome para assumir o comando do PT. De acordo com informações apuradas pelo Correio da Manhã, durante o encontro, parte do grupo demonstrou insatisfação com a candidatura de Edinho, alegando que ele "sentou na cadeira antes da hora".
Resistência
A principal crítica feita ao ex-prefeito é que ele não buscou dialogar ou construir uma candidatura de consenso, mas se posicionou como pré-candidato de forma antecipada, chegando até a participar de encontros com o prefeito de Recife, João Campos (PSB). Essa atitude gerou a impressão de precipitação entre seus opositores. Além disso, Edinho promoveu encontros com membros do PT, excluindo integrantes do comando, e deixou claro que não tem interesse em manter Gleide Andrade, tesoureira do PT, no cargo, o que também não foi bem recebido. Gleide é um nome ligado a Gleisi Hoffmann.
Mudou de ideia
Em resposta às críticas, Lula tomou uma posição distinta da defendida anteriormente e afirmou que Edinho não é seu candidato. Interlocutores do presidente revelaram à reportagem que o chefe do Planalto não entrará em uma disputa considerada perdida e não forçará um nome que não seja aceito pelos membros do partido. No entanto, caso Lula decida se manifestar publicamente a favor de algum candidato, a legenda não seria contrária à sua escolha. Enquanto isso, a oposição continua firme.
Ao se colocar como candidato, o ex-prefeito afirmou ser um aliado de longa data de Gleisi, e a definiu como “a maior presidente da história” da sigla. No entanto, disse que vai respeitar caso ela não o apoie como sucessor. “A gente tem que respeitar as posições que são diferentes da nossa”, declarou Edinho Silva.
Outros nomes
A disputa interna pelo comando do PT segue em aberto, com outros nomes sendo cogitados para o cargo. A candidatura foi aberta nesta segunda-feira (10) com encerramento previsto para o dia 19 de maio, a eleição acontecerá em julho.
Entre os cotados estão o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto; o deputado federal e líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e o deputado federal Rui Falcão (PT-SP). Além disso, o senador Humberto Costa (PT-PE), atual presidente interino do partido, também é mencionado. Embora ainda não tenha lançado oficialmente sua candidatura, Costa estaria disposto a assumir o cargo, caso haja uma construção de consenso dentro da legenda.
Há, inclusive, um movimento do PT em observar os estados brasileiros que a sigla governa atualmente. O partido, que possui mais força no Nordeste, cogita indicar nomes da região para fortalecer e valorizar a base eleitoral.